quarta-feira, 12 de maio de 2010

Momento Sinhozinho Malta


Todo mundo tem seu dia de mocinho e seu dia de bandido. Ou melhor, acredito que todos tem seus tempos de mocinho e seus tempos de bandido, afinal ninguém é perfeitinho e principalmente passível a tudo o que acontece ao seu redor. Refletindo com meus zíperes e botões sobre criticas quando a uma fase minha de Odete Rotmain, semanas atrás entre estes tais julgamentos de ser bom ou seu mau, (ou não ser, ou talvez ser os dois), me deparei com a Revista Vida Simples, que trazia em sua matéria de capa a seguinte indagação: Você é mesmo do bem? – onde tal matéria intrigou-me.


Em seu inicio, as páginas lembravam-se do martírio e sofrimento de Sinhozinho Malta, que em uma memorável cena, encontrava-se abraçado com sua vaca Esmeralda, em companhia a uma garrafa de cachaça aos prantos, por não entender como toda a Roque Santeiro estava contra ele, um cidadão tão bom e digno. Não precisa ser tão velho assim para lembrar-se da novela e de como o corrupto agia na cidade e como se fazia de vítima. Fato é que todos nós em alguns momentos somos: Sinhozinho Malta, Odete Roitman, Nazaré Tedesco ou a Isabel (irmã da Luciana de Viver a Vida); por momentos temos dificuldade de enxergar quando pisamos na bola e principalmente de assumir que às vezes fazemos as nossas grandes e pequenas malvadezas.


É natural do ser humano achar que os outros estão errados e que nós somos os injustiçados, que fomos enganados e que fomos vítimas da situação; estamos cheios de razão e reconhecer o erro e ainda mais reconhecer que não fomos leais, justos e confiáveis, além de ferir o ego: dói.
“Mas não foi a minha intenção”. Muitas vezes, até pensamos em praticar o bem, porém não conseguimos identificar o quanto ele é real, genuíno e autêntico, ou quando ele é outra coisa disfarçada de bondade e compaixão. Fato também que ninguém quer ser pérfido, cruel e ruim e o mal que causamos às vezes é fruto de uma falta de consciência do que fazemos e da nossa ausência de visão quanto as conseqüências de tais atitudes.


Muitas vezes, acabamos ferindo sentimentos, magoando pessoas, agindo com certa individualidade, com a intenção de “dar um gelo” em tais pessoas ou acontecimentos e no calor (ou frio do momento), tal atos se tornam tão latentes que acabam fugindo de nosso controle e acalcando dimensões maiores e de sentimentos contrariados. Pode ser que haja a boa intenção de nossa parte, mas não um interesse real com o que acontece depois de nossa ajuda.


Outro ponto curioso da reportagem foi a de reconhecer que é mesmo capaz de praticar o bem. Segundo informações a bondade exterior, essa caridade que faz julgar a mim mesmo como bom e generoso, pode esconder outras intenções e motivos. O desejo obsessivo de praticar o bem pode ser sinal de carências profundas, vindas de outras fontes internas. Amnéris Marone, psicoterapeuta e professora da Faculdade de Antropologia da Unicamp diz que: “A bondade consciente é uma conquista interna, espiritual. Ela só pode ser exercida plenamente quando não encobre desejos de manipulação. O exercício da bondade também não pode ser usado para suprir nossas próprias carências de afeto, ou as carências de afeto de outras pessoas”.


Desta forma, quem pratica o bem dessa forma consciente o faz de maneira saudável: não se julga “bom”, “santo”, “puro”, mas um ser que tem aspectos positivos e negativos, que é capaz de ser ciumento ou arrogante numa ocasião, mas também generoso e solidário em outra. Amnéris acrescenta ainda que para poder reconhecer a existência do bem e do mal dentro de nós, ajuda muito a criação que tivemos na infância, onde uma pessoa que teve os pais,ou um professor influente, capazes de ser tolerantes com o mal, o erro ou um limite, vai estar capacitada a se aceitar melhor em sua totalidade e a não projetar suas emoções negativas nos outros, como se não as tivesse.


Desta forma, não há problemas (muito graves), em ser mal, se nós e as pessoas com as quais convivemos sabiam entender as raízes destas “maldades”, pois se um ato vem de nossas atitudes todos nós erramos e na maioria das vezes que erramos, as fizemos na ânsia de acertar. Assim, os momentos de vilão são passageiros e sempre passíveis de arrependimento e perdão.

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