quinta-feira, 26 de março de 2009

Ih, esqueci!


Porém, tem coisas que não saem da minha cabeça.
- Mas eu juro que eu guardei aqui, manhê!
- Se você guardou aí, então aí deve estar.
- É, mas não está, só pode que alguém pegou!
- Quem que ia pegar teu óculos, Pollyanna?
Não é difícil, visualizarmos situações em que esquecemos as coisas que acabamos de fazer não é mesmo? Infelizmente, essa é uma cena que comumente se repete no humilde lar do clã Wronski e a personagem que esquece tudo, sou eu. Tudo bem que podem, os senhores, cogitar a hipótese que um envelhecimento precoce de minhas células neurôniais, porém, ainda não cheguei nem perto das primaveras as quais eu possa sofrer do Mal de Alzheimeir e isso é fato, intrigante.
De acordo com considerações formulada por Nietzshe, o homem é esquecido por natureza, e é considerado em espontaneidade instintiva, um ser que teria o esquecimento como uma força corporal imprescindível para a existência saudável e plena em alegrias e afirmações. O esquecer é uma força positiva que possibilita uma espécie de “descanso”, de “relaxamento”, de “paz” da consciência. Um momento através do qual, ela libera o que fora experimentado e vivenciado, permitindo que a novidade, que o fluxo possa também ser vivido, que possa surgir, por sua vez, o novo. Logo, a memória e o esquecimento funcionam naturalmente em uma dinâmica em que ambos são igualmente necessários à vida.
Porém, diante de tais acontecimentos da vida, sofre o homem com violências sociais, onde aprende a dominar seus afetos, desenvolvendo um grau de “humanização” em que é necessário avaliar os outros, cobrá-los, julgá-los e fazê-los pagar. Nessa relação, os afetos não podem ser exprimidos espontaneamente. Estes são naturalmente ativos e tomam uma direção reativa: considerando prejuízo, agressão, onde o sentimento é “guardado”, para que de forma calculada seja planejada a melhor forma de exprimi-lo. Por isso, tem coisas que a gente até tenta, mas não consegue esquecer tão facilmente: o que é guardado nutre rancores e ressentimentos, que impedem o fluxo livre de pensamento e impedem novas sensações e até a criação.
Ainda tentando lembrar onde pus os óculos, é preciso que a falta de memória seja fruto de patologias, como mal de Alzheimer e doenças vasculares que podem ocasionar a falta de memória. Nos dois, a maioria das pessoas possui mais de 60 anos, porém uma pesquisa de cientistas americanos sugere que a capacidade mental de uma pessoa começa a deteriorar aos 27 anos, marcando o início do processo de envelhecimento. Timothy Salthouse, da Universidade de Virgínia, sugeriu que "alguns aspectos do declínio da função cognitiva em adultos com boa saúde e nível de instrução começam aos 20 e poucos ou 30 e poucos anos" onde o raciocínio, agilidade mental e visualização espacial começam a entrar em declínio.
Desta forma, ligamos uma série de doenças que também podem afetar a memória nos jovens, sendo as maiores: o estresse e ansiedade. Estes são fatores que alteram a memória, em qualquer idade, pois podem atrapalhar no armazenamento e no “resgate” das informações na memória. “O jovem é bombardeado com muitas informações e atividades hoje em dia. E, assim, uma hora o nosso ‘HD’ não tem mais espaço”, compara a neuropsicóloga Ticyana Moralez da Silva.
Segundo o neurogeriatra Mauro Piovezan, do Hospital de Clínicas (HC), da Universidade Federal do Paraná, a reclamação de dificuldade com a memória pode estar camuflada pela falta de atenção. “Esquecer é freqüente, mas às vezes o problema é a falta de atenção. A pessoa não se fixa naquilo que está fazendo por estar sobrecarregada e não consegue focalizar a atenção”.
Infelizmente, esquecer não é uma coisa que se ensine como propôs Caetano Veloso: “você não me ensinou a te esquecer”, se fosse assim, deletaríamos só o que nos seria conveniente e manteríamos em nossa memória só afetos e situações positivas anulando o ressentimento e os rancores. Por hora, com o HD falhando é preciso manter a calma, se concentrar e tentar anular o estresse e cultivar só boas lembranças.

Carta para os Homens



Uma mensagem de dor e angústia para ver se vocês entendem.
Caros homens, mais especificamente Homo sapiens sapiens do sexo masculino, hoje meu papo é diretamente com vocês. Vocês não me conhecem, não me sentem, talvez até acreditem que eu não exista, já ouviram (e ouvem) falar de mim e certamente convivem comigo boa parte de todos os dias do mês.
Olá. Muito prazer, eu sou a Cólica Menstrual. Sou conhecida também como dismenorréia, mas todos me chamam mesmo de cólica, claro que por ser tão agradável, meu nome vem acrescido de alguns apelidos, (alguns até pejorativos), que ilustram o carinho que as mulheres tem por mim: cólica infernal, cólica lazarenta ou mesmo maldita cólica. Graças a Deus, eu só incomodo as mulheres, pois por mais que elas façam alarde, (às vezes um pequeno escândalo, concordo), elas me agüentam. Sou, como se pode dizer, um sintoma normal que venho sempre junto de minhas melhores amigas, as quais vocês também não conhecem, mas já ouviram falar (e muito): a Menstruação e a TPM.
Costumo atingir mais de 50% das mulheres em idade fértil, sou uma das principais queixas delas e responsável por perda de dias inteiros de estudo ou trabalho. Por quê? Bem, particularmente eu sou especialista no que faço, e quando chego, chego para detonar. Ataco logo abaixo, ali na região do ventre e muitas vezes passeio das costas para frente, num andar meio frenético. Ás vezes trago uns acompanhantes para executar minhas tarefas diárias: enjoos, diarréia, vômitos, cansaço (muito inclusive), dor de cabeça, vertigem e um certo “nervosismo”. E é por esse nervosismo que eu chego até vocês homens e vocês não me compreendem.
A verdade é que junto com a TPM e a menstruação, eu estrago a vida das mulheres. Tudo isso por causa de alguns “hormoniozinhos” que são liberados pelo comparsa cérebro, durante o intervalo de tempo em que o corpo da mulher se prepara para menstruar e a menstruação em si. Temos uma relação, digamos, íntima, com hormônios sexuais femininos: o estrógeno e a progesterona. Após cinco dias de ciclo menstrual, os ovários liberam os hormônios, querendo deixar o útero mais espesso, possibilitando abrigar um futuro feto. Depois de 14 dias de ciclo, o óvulo é liberado por um processo chamado de ovulação, aí eu já posso aparecer sozinha, porém é quando termina a ovulação, na última fase do ciclo que vem a TPM e eu aumento, junto com a produção dos amigos hormônios. A gente gosta de uma bagunça, eu interajo com os hormônios e eles com os neurotransmissores e nessa interação é que a gente afeta o humor das meninas. Interagindo com a serotonina, reduzimos seus níveis e causamos sintomas de depressão, irritabilidade, raiva e desejo por carboidratos (macarrão, chocolate, tortas e afins). Cutucando as endorfinas, diminuímos as sensações de prazer e aumentamos as de dor (aí vai mais chocolate e ainda pizza com coca-cola).
Mas o pior mesmo, quer dizer, o melhor é quando os hormônios incendeiam a adrenalina, eles afetam ela de um jeito que aumentam até a pressão sanguínea, o estresse e alteram o humor (explicam-se aí as crises de choro repentinas e os ataques maníaco-depressivo no meio do trabalho, da aula, etc). Isso sem falar nos mineralocorticoides que causam o inchaço e a prolactina que alteram a constituição dos seios. Agora, pensa tudo isso somado a mim, aquela dorzinha ou dorzona chata e a vocês, homens muitas vezes (muitas, concordo que em algumas vezes vocês até tentam ser pacientes), que não compreendem o estado de tsunami que se encontra o psicológico e o físico também das mulheres durante esses períodos.
Me digam, dá pra agüentar? Devo acreditar que vocês devem estar comovidos com minhas palavras e até se perguntando se tem tratamento pra isso. Pois bem, eu, a Cólica, posso ser amenizada com o uso de antiinflamatórios, porém alguns deles podem atacar o estômago e intestino e trazer coisas ainda piores. Vale lembrar que assim como a Menstruação e a TPM, somos manifestações normais (sim, vocês leram normais) do organismo feminino e logo, não existe doença e, por conseguinte, não existe cura. Existe tempo de espera para se amenizar os sintomas e esses tempos passarem, por aquele mês, para retornarem no próximo.
Então, caros cavalheiros, espero que os senhores compreendam um pouquinho mais suas mães, irmãs, amigas, namoradas, colegas, amantes e afins, pois não é nada fácil passar pelo que elas passam, elas não tem culpa, nem eu, nem vocês. Agradem, comprem um chocolatinho, façam um carinho e jamais, mas jamais perguntem se elas estão estressadas ou de TPM, pois o efeito pode virar contra vocês. Tentem compreender, afinal, tudo isso é NORMAL na vida de uma mulher e elas agüentam.

Com carinho e pra vocês sem causar dor,

A Cólica.

domingo, 22 de março de 2009

Ciências X Religião


Esse combate precisa ter vencedor?


Há algumas semanas estamos acompanhando o caso da menina que foi violentada pelo padrasto e ficou grávida aos 9 anos na cidade de Recife e teve a sua gestação interrompida. A menina, foi internada na terça-feira, dia 3 de Março e com a autorização da mãe, recebeu doses de um medicamento para interromper a gravidez.
A Igreja Católica interveio na questão onde, o arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, mostrou-se mais uma vez contrário ao aborto, já que o Código de Direito Canônico diz que todos aqueles que conscientemente se envolvem num processo de interrupção da vida, como neste caso, estão automaticamente excomungados da Igreja Católica. Porém, não foi somente neste caso que a Igreja Católica contrariou e comprou briga com a ciência e os avanços nas pesquisas cientificas. Ano passado, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) lançou a Campanha da Fraternidade 2008, que tinha o tema "Fraternidade e Defesa da Vida". A campanha foi contra a legalização do aborto, a prática da eutanásia, o uso de células-tronco e as práticas de reprodução assistida, entre outros.
Muito se debate contra essa questão, porém muito poucos sabem o que é célula-tronco, assim por não conhecer a sua importância e seu significado, para no futuro substituir no organismo humano os tecidos lesionados ou doentes, como nos casos de Alzheimer, Parkinson e doenças neuromusculares em geral, ou ainda no lugar de células que o organismo deixa de produzir por alguma deficiência, como no caso de diabetes, as pessoas começam a confundir o assunto e também, a opinião pública. A professora Mayana Zatz, do Centro de Estudos do Gênero Humano, do Departamento de Biologia, do Instituto de Biociência da USP – Universidade de São Paulo, diz que “as células-tronco totipotentes (ou multipotentes) só são encontradas nos embriões. As totipotentes são aquelas presentes nas primeiras fases da divisão, quando o embrião tem até 16 a 32 células (até três ou quatro dias de vida). As células tronco ainda são objeto de pesquisas, mas podemos dizer como exemplo que são encontradas no trato intestinal.
Quando da votação do Projeto de Lei que autorizava a pesquisa da célula-tronco, um defensor da Igreja, identificado como “Católico Apostólico Romano”, afirmou que ninguém tivesse dúvidas quanto à sua fé, onde as regras ditadas pelo Vaticano se aplicam exclusivamente aos católicos e este, foi bem enfático ao deixar patente que os não católicos estariam desobrigados inteiramente de seguir os ensinamentos e dogmas da Santa Sé.

Porém, diante do procedimento da Santa Sé, em questionar atitudes e condenar atos, vale lembrar de algumas lições da história, deixadas pela Igreja: lembram dos hereges jogados na fogueira pela Santa Inquisição? Lembram dos cientistas também considerados hereges que afirmaram que a Terra não era o centro do universo? Difícil não lembrar! Para tanto, vivemos um momento em que os cientistas proclamam a possibilidade do aproveitamento de células-tronco para fins terapêuticos, permitindo que pessoas acometidas das mais variadas e cruéis moléstias sejam curadas, e assim surgem questionamentos de que usar célula-tronco retirada de embriões, seria tirar a vida, cometer crime e pecado.
Semana passada, uma menina britânica de dois anos de idade que nasceu cega teve sua visão reparada graças a um tratamento com células-tronco. A britânica Dakota Clarke, da cidade de Newtownabbey, na Irlanda do Norte, nasceu com displasia septo óptica, uma deficiência rara no nervo ótico que provoca cegueira. Submetida a um tratamento no hospital de Qingdao, na China, que utilizou células-tronco retiradas do cordão umbilical da criança e injetadas na corrente sangüínea que corrigiram as células danificadas; após o tratamento, Dakota Clarke conseguiu ver contornos e cores dos objetos e distinguir luzes à sua volta. Segundo os pesquisadores apenas cerca de 15 pessoas passaram por este tipo de tratamento, que ainda é considerado experimental. Mas o fato é que devolveu parte da visão a uma pequena criança.
Toda essa questão, aliada a passagem da quaresma, nos leva a pensar sobre quais os rumos que a ciência e a religião estão tomando e principalmente para onde nós vamos e o que pensaremos diante de tudo. Quero acreditar que seja na vida. Mas, quando começa a vida? Já, desvendaram o mistério da vida? Isso fica pra outro voo.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Life is short.


Mas, antes brega do que corno.

Com muito ou nada para celebrar (na opinião das mais feministas), o domingo passado foi “comemorado” o Dia Internacional da Mulher. Muitas foram lembradas e celebraram o dia entre flores e alegrias, mas com certeza, a maioria passou um dia mergulhado em um melodrama mexicano: foram esquecidas em seu dia. Tudo bem que assimilar o esquecimento masculino de datas importantes já devia ser normal para as mulheres, mas o fato é que adoramos um drama, necessitamos ser paparicadas, agradadas e amadas: exclusivamente! Ou não?!

O fato para tal questionamento veio depois que ficar praticamente ruborizada com uma reportagem da última revista Super Interessante, que entre as suas páginas trazia uma matéria com o seguinte título: O amor em tempos de chifre. O destaque da capa era ainda pior: A era dos cornos. Acredito que como eu, os senhores ficaram extremamente curiosos e atiçados em saber qual seria o teor das páginas e para meu deleite não houve mesmo pegadinhas, o negócio era mesmo sério, quer dizer não era nada sério, tratava-se de safadeza pura.

Segundo a reportagem, uma comunidade virtual canadense incendiou a ira de muitos nova-iorquinos com a exposição de um anúncio em plena Times Square com os seguintes dizeres: “Life is short. Have in affair”. Em bom português: A vida é curta. Tenha um caso. Sim senhores, a ideia do site era exatamente essa fomentar um divertido encontro com filiais, sem abandonar as matrizes.

E nada de achar que a coisa é só pro lado masculino, os homens que fiquem alerta: para minha surpresa (mais uma), a revista trazia que o índice de traições cresce mais entre mulheres do que com os homens! Certo que, a vitória ainda é indiscutivelmente deles, pois segundo pesquisas 3 em cada 5 deles possui genes pré-dispostos a traição e ainda toda aquela história de auto-afirmação por causa da poligamia e tempos históricos e evolução e talls, faz com que a traição seja normal (ok, normal não, seja encarada com menos revolta) quando parte de homens, mas as fêmeas não andam ficando para trás dos machos: o índice de galhos cresce também na cabeça deles.


A traição feminina é justificada pelo avanço da mulher na sociedade. A modernização da mulher fez com que ela, mesmo não saindo da cozinha e do tanque, alcançasse o escritório, a gerência, os bancos universitários e elevou o seu estado de Rainha do Lar para Rainha de Vários Lugares e principalmente Rainha de si mesma. A exigência feminina na escolha do parceiro, já é fato histórico comprovado e o crescimento de seu potencial social, econômico e intelectual a fez querer não somente o príncipe encantado, mas o administrador, o dominador, o intelectual e antenado homem do século XX, logo os mais conformados e acomodados: dançam passivamente com um pesinho na cabeça.


Já os homens que se mantém firmes e globalizados com a mudança das mulheres contaram com a ajuda da tecnologia para maltratar e arrepiar os cabelos de suas esposas ou namoradas: trair para eles ficou fácil, é só usar o celular, o orkut, o msn! Logo as inertes apaixonadas sem um par de olhos arregalados também dançam.


Para os adeptos de um pensamento de casamento e um até a morte os separe, a coisa tá feia, principalmente porque quando se está apaixonado é impossível de admitir que isso exista. Porém, é possível senhores! A ciência explica que nosso cérebro possui áreas diferentes para desejo, amor e o apego: logo, (só para a ciência, não para mim e para doze em cada dez mulheres), é aceitável estar com uma pessoa, apaixonado por outra e ainda alimentar desejo por uma terceira, e isso vale para os dois sexos.
Mas aí o que explica que a incidência masculina seja ainda maior? Primeiro é que fidelidade e amor são palavras com raízes no feminino e que, mesmo para trair a mulher é mais seletiva! No caso delas a procura é grande, mas a oferta nem sempre atende as expectativas do consumidor e ela não hesita de ir trás de um que satisfaça as suas esperanças. Entretanto, para eles a procura não é tanta assim não, como diz um amigo meu: se deu mole, eu sou obrigado, e nesse caso se há oferta, há procura e há a concretização do negócio.
Opiniões e crises de riso à parte com a leitura da reportagem, eu e alguns amigos (sim, mulheres e também homens), chegamos as seguintes conclusões: Globalização sim e Life is short: yes! Porém, ando preferindo ser brega e atrasada no tempo, pois acredito em viver plenamente a curta vida, sem esquecer que vale muito mais ser uma solteira desencanada do que uma compromissada desconfiada.
Pollyanna Gracy Wronski é Bióloga, Professora, Acadêmica de Ciências Contábeis e depois dessa reportagem seu estado civil é desinteressada.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Porque? (Parte II)



Quem pergunta, às vezes já sabe a resposta e tem coisa que não tem resposta.

Primeiramente, gostaria de pedir-vos sinceras desculpas por estar ausente nas últimas edições deste periódico, uma união de motivos de força tecnológica maior aliado a uma estaticidade quase que depressiva de minha alma, foram às causas deste “temporário” desaparecimento. Contrariando os tempos de colorido vibrante do carnaval, passei alguns dias em profundos tons de cinza, pensando e buscando achar respostas para acontecimentos que vida me apresentou. Para isso, misturei a essa maré reflexiva a indagação dos meus “porquês” do último voo e acreditei que um introspectivo mergulho no feriado traria todas as respostas e a razão de todo aquele sentimento, todavia para minha surpresa isso não aconteceu.


Porém o que mais me intrigou não foi o fato de não ter encontrado durante aquele tempo de férias, as respostas para minhas perguntas, mas de perceber que todas elas já tinham respostas, e eu já as conhecia. Pois bem senhores, a questão é que somos seres humanos formados por carne, osso, um pouco de razão e muito de sentimento, aí assim por diversas vezes somos deixados levar pelo calor das emoções e sentimentos e num lapso de memória nos perdemos e perplexos voltamos a fazer perguntas as quais já fizemos no passado e cujas respostas estão estampadas na nossa cara.


Logo, como se fosse um dramalhão mexicano caímos nas amarguras dos porquês e tentamos achar uma razão para o que nos trouxe as mesmas perguntas. È, e volta e meia eu volto na tal da razão, e acredito até que esse negócio dos seres humanos tentarem encontrar razão em tudo o que nos acontece, para tudo o que fizemos, venha a ser uma característica inata em nossas vidas.


Nós seres humanos, com cérebro altamente desenvolvido e polegar opositor, comumente usamos a “razão” como referência a motivos de alguma coisa, onde desde os primórdios é evidente a busca para a origem e continuação de pessoas, coisas, sentimentos, acontecimentos, enfim tudo o que nos rodeia. Porém, a palavra razão possuiu sentidos diferentes: certeza, lucidez, motivo, causa. Para a filosofia inclusive, a razão se constitui uma das principais ferramentas pois essa ciência tem como fundamento a contemplação, o deslumbramento pela realidade, a vontade de conhecer, e como método primordial a rigorosidade do raciocínio, para atingir a estruturação do pensamento e a organização do saber, a razão de ser torna-se fundamental.


Assim na filosofia, a verdade é racional, porque identifica razão e lucidez, além da razão e motivo e por considerar que sempre agimos e falamos movidos por motivos, logo, segundo ela, somos seres racionais e a nossa vontade é racional, porque identifica razão e causa e julga que a realidade opera de acordo com relações causais, assim: realidade é racional. Entretanto, certamente os senhores conhecem a frase de Pascal que diz que: "O coração tem razões que a razão desconhece", logo neste contexto, as razões e razão não têm o mesmo significado, onde razões são os motivos do coração e a razão é algo diferente de coração e indica consciência intelectual e moral.


E dentro deste pensamento, me recordei de vários pensamentos que já tive pensando em razão de ser, de existir e de acontecer e também me recordei que muitas vezes o importante não é encontrar razão de tudo, mas aceitar a idéia de que existem fatos que nos acontecem sem qualquer razão. Por exemplo, não existe uma explicação racional para um terremoto, um enchente, um raio. Pensando com razão e avaliando a razão, lembrei também do que ocorrem dentro dos núcleos das células somáticas na hora da fecundação quando o DNA sofre mutações ao acaso, sem razão ou explicação alguma e dão origem a uma nova espécie. E vamos nos frustrar por isso acontecer ou mesmo vamos criar mais um capitulo para a novela mexicana, não? Talvez, a palavra da vez não seja razão, nem pergunta, nem porque e sim aceitação.


É, ninguém pode negar que adota princípios e condutas em sua vida, os quais objetive seu bem e o bem comum. O bem-estar e a felicidade são a busca primordial e incessante do ser humano (não entremos no que nos faz feliz que isso é outra viagem), porém no caminho nos deparamos com percalços que nos desviam do rumo, aí procuramos a razão do porquê, no que foi que eu errei, tentamos achar todos os porquês e esquecemos do acaso, das coisas sem razão. Imagine se coisas sem razão não acontecessem, o que seriam das tantas novas espécies que surgiram por intermédio das mutações e do acaso? Não permitiria a evolução: do pensamento, de espécies, de formas de vida e do pensar.


Precisamos aceitar tudo o que nos acontece e isso já é uma lição aprendida não é mesmo? Para mim é mas parece que o acaso insiste em me colocar em cheque e porque? Porque sim, talvez eu precise das mesmas perguntas para relembrar as respostas, ou mesmo o acaso, uma força maior, ou sei lá o que trazem coisas e fatos em nossas vidas que venham com algum objetivo ou que não tenham objetivo algum. Mas aí, adianta desesperar? Claro que não, cabe a nós considerar os porquês, avaliar que tem coisas que talvez não tenham o porquê, captar o que nos for necessário, abstrair o que não nos faz bem, aprender novamente com as mesmas perguntas e seguir em frente. Nada de mergulhar no cinza, pois mesmo depois do carnaval é sempre bom levantar a poeira e se divertir em tons de aquarela, por que? Não interessa.


Pollyanna Gracy Wronski é Bióloga, Professora, Acadêmica de Ciências Contábeis e quer tentar não buscar razão pra tudo.