quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Coisas de Pré-Adolescente



- Não consigo acreditar, francamente. Mamãe está enlouquecendo, João, só pode?


João Gabriel estava concentrado em frente ao computador, quando Pérola adentrou em seu quarto com um ar de inquietação visível. A irmã mais nova entrou e se jogou em cima da cama: as bochechas cheias de ar, uma cara emburrada e uma lista toda rabiscada.


- O que foi agora pequena princesa querida do mano?


Pérola simplesmente odiava quando o irmão mais velho a chamava assim: “Pequena Princesa”, aquilo era tão... Tão infantil! Afinal, ela estava para completar 10 anos de idade, sabem o que é isso, 10 anos de idade? Isso é pré-adolescência e quem está crescendo tanto, tão rápido, não é mais criança e merece um tratamento diferenciado.


- João, você sabe que eu não gosto que me chame assim, né?! Por favor, dá pra crescer e me ouvir um pouco?


Naquele momento o irmão teve que ser mais forte e controlar as gargalhadas que emanariam da sua boca, assim parou de digitar o trabalho da faculdade no computador e virou-se para a pré-adolescente a fim de escutar suas lamúrias e choramingos.


- Pois bem mocinha, estou todo a ouvidos. Pronto para escutá-la, - disse batendo no peito, o que irritou ainda mais a irmã – manda a brasa que eu estou preparado!


- É a Mamãe. Ela não me entende. Acha que eu ainda sou uma criancinha de chupeta na boca e fraldas. Francamente!


O irmão com cara de quem não entendeu, mandou:


- Mas porque a senhorita diz isso? Ela fez algo que lhe perturbou? Ou, ou, ou! Foi você quem fez?


- Ah, não viaja João. Acontece que semana que vem, completo 10 anos de idade, aí ela disse que eu poderia chamar alguns amigos para virem aqui em casa para gente comemorar a data. Então, eu fiz uma pequena listinha de pessoas para minha reuniãozinha e também das coisas que deveriam ter nesse encontro, só que, a mamãe cortou metade da lista de convidados, a lista inteira de quitutes e atrativos para a festa e o pior, ela quer que seja de tarde! Agora me diz se eu não tenho razão? Mamãe não está doida?


- Tá, deixe-me entender a situação. A mamãe deixa você fazer a festinha...


- Reunião! – disse ela interrompendo.


- Deixa que você convide umas amiguinhas...


- Mas cortou todos os meninos da lista!


- Diz que vai fazer bolo, brigadeiros, olho de sogra e refrigerantes...

- Eliminou os canapés, os drink’s que você iria fazer!

- Quêêêê? Eu iria fazer o que? Numa festa de criança de 10 anos de idade?

- Joãoooooo, você também? Não me venha com aquele discurso de que eu sou criança você também, fala sério!

- Mas, Pérola, você é! E tem que ter uma festinha de crianças, de meninas, com bolo e brigadeiros e beijinhos, a tarde e ainda sem drink´s, lógico. Uma digna festinha de criança, isso é uma deicia!

- Delícia? Viu só! Vocês são todos iguais. Dizem que eu sou grande e tenho que ter responsabilidade com meus estudos, com a “secagem” da louça depois do almoço, em cuidar dos gêmeos quando a mamãe sai e blá, blá, blá” Mas quando é para mim a coisa fica diferente, “porque você é pequena”, “você ainda é uma criança”! Quer saber eu cresci 5 centímetros nos últimos meses! Isso é muita coisa! Depois são os pequenos que não entendem as coisas. São vocês adultos que complicam isso sim. E quer saber, tchau. Não quero saber mais nada de festa!

Pérola saindo correndo para seu quarto e bateu a porta. João foi atrás para tentar explicar algumas coisas para a irmã e consolá-la em sua aflição. Foi em vão, a porta estava trancada e ela soluçando. Na volta para o quarto, diante de sua bola de futebol, dos bonequinhos super-heróis, do trabalho da faculdade e da bronca que tinha levado do chefe naquela tarde, João sentiu saudade de seu tempo de criança, que é o melhor da vida.

- É Pérola, hoje você quer ser adulta, amanhã quer voltar a ser criança.

E assim são nossos dias, quando crianças, queremos ser adultos para aproveitar a vida e quando adultos queremos voltar a ser criança para desfrutar daquilo tudo que tínhamos e renunciamos em favor de mais tempo. Triste ironia, com um bocado de frustrações e ainda sem beijinhos, nem brigadeiros.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Melhor do Universo





Não se animem senhores, não diante apenas de um títulozinho chamativo. Não queiram ler aqui o melhor dos meus escritos, ou uma nova descoberta científica, tão menos uma previsão astrológica ou a receita de um bolo de brigadeiro light. Alerto-vos: não criem expectativas em cima de minhas teorias ou minha meia dúzia de palavras: elas podem levá-los a lugar nenhum e ainda pode conduzir-vos ao nada.


Talvez os senhores achem que o assunto de hoje não tenha nem pé ou mesmo cabeça, mas eu acredito que a tal da expectativa é uma questão (ou problema?) que aflige grande parte das pessoas: é terrível, angustiante, manipula, amarra e conduz muitas vezes ao erro e ao engano.
Segundo definições do Dicionário Aurélio, a palavra expectativa é a “esperança fundada em promessas ou probabilidades, (...) atitude prudente de quem espera”. Tal qual é evidente a afirmação de que nem tudo que reluz é ouro, é também o dito de Switf que diz que promessas e bolachas nasceram para serem quebradas, logo, bolachas quebradas destroem qualquer expectativa e conseqüentemente qualquer meta ou sonho. É frustrante ter expectativa em algo ou em alguém, concordo que devo apostar todas as minhas fichas, concentrar todos meus esforços em função de um ideal, inserir uma alta dose de esperança no mesmo, todavia tenho que compreender e a saborear também as bolachas quebradas.


O criar de expectativas, infelizmente, é nosso diário companheiro: quando você estuda toda a matéria para uma prova e tira um zero bem redondo, quando compra um vestido para uma festa e chove e esfria bem no dia, quando vai a algum lugar na certeza de encontrar uma pessoa e ela não aparece, quando se dedica muito para em uma tarefa e ela simplesmente não é valorizada, quando acha que conheceu uma pessoa sensacional e descobre que ela tem as mais detestáveis manias, quando se perde por 3 x 0 para a Argentina na semi-final das Olimpíadas, enfim, tudo parece desmoronar diante dos olhos.

Uma vez eu li que expectativa gera decepções e às vezes parece que se trata realmente de uma premissa verdadeira, mas o fato é que quanto mais a conhecemos, mais sofremos com ela. Porém, creio que a pior de todas, seja a expectativa pelo outro, onde irremediavelmente idealizamos pessoas e comportamentos conforme as nossas vontades, esquecendo que cada um tem o seu eu e, parafraseando Sergio Britto, cada um sabe a alegria e dor que trás no coração.

Por isso eu lhes pedi que não criassem expectativas sob essas linhas, nem todas as outras as quais ainda hei de escrever, pois não gostaria de decepcioná-los. Não estou aqui para impressionar ninguém e pode ser que isso destrua a expectativa de muitos em relação a minha pessoa, mas sinceramente, não estou interessada em como as pessoas me vêem ou que elas esperam de mim. Quando você cria expectativa em algo ou alguém acaba por julgar sem conhecer a fundo. Aí, talvez até tenha criado uma expectativa de ser compreendida em meu devaneio de hoje, caindo no meu próprio erro, querendo que as pessoas sejam como eu, pensem como eu, mas isso não existe, são falsas esperanças. Por isso que decepções nos ensinam a viver, a conviver e a compreender mais tudo, todos e as bolachas quebradas.
Certamente, ao chegar nesse último parágrafo (se conseguiram chegar até ele, sem ficarem entediados), os senhores tenham ficado um tanto quanto decepcionados com a falta de consistência do assunto do vôo de hoje. Seria fome? Indignação? Inconformismo? Revolta? Desilusão? Diria eu que talvez o nada poderia explicar o enleio dessas linhas, onde o melhor do universo não seria esperar o tudo criando falsas expectativas, mas sim o nada, que sem promessas, pode ser muito mais leve, autêntico e enriquecedor.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Crescei e Multiplicai


E não adianta negar e nem se esconder. Não está só na Bíblia, mas as leis biológicas que regem a raça humana (e também animal) afirmam que o direito de procriação, reprodução, perpetuação e manutenção da espécie precisa ser garantido.

Assim, a partir dessa premissa de procriação temos os grupos mais bem resolvidos, os poligâmicos que não precisam se preocupar em achar o par perfeito, afinal eles não vão assegurar uma vida conjugal com divisão de aluguel, água e fraldas e, os monogâmicos, que procuram um par que lhe sirva e seja do seu número.

Por conseguinte, a incessante procura dos grupos monogâmicos é sempre alvo da curiosidade e da pesquisa de cientistas, biólogos e geneticistas de diversas partes do mundo; ainda mais as técnicas de envolvimento, corte e atração dos sexos. Logo, uma recente pesquisa holandesa indica que as pessoas são consideradas muito mais bonitas e atraentes pelos seus parceiros do que por si próprias.

Dentro do estudo, os cientistas ouviram 93 casais heterossexuais com relacionamentos de, em média, 14 anos. "Os resultados apóiam a teoria de que indivíduos têm ilusões positivas sobre (o poder de) atração física dos seus parceiros", afirma a pesquisa. O estudo foi publicado em um artigo intitulado Ilusões positivas sobre a atração física aos parceiros na última edição da revista científica Body Image.

A pesquisa foi feita através de questionários com casais holandeses e sugere que as pessoas são mais críticas sobre suas próprias aparências do que em relação às dos parceiros. Em especial, as mulheres foram muito mais críticas consigo mesmas do que os homens. Além disso, elas teriam falsas expectativas em relação ao que os seus parceiros consideram atraente.

Ainda segundo a pesquisa, nas relações os parceiros freqüentemente descobrem fontes de negatividade e conflito que podem ameaçar as sensações de segurança, ao levantar suspeitas de que o parceiro não é exatamente a pessoa 'certa'". Tais duvidas, são perigosas porque a negatividade geralmente surge quando as os parceiros já investiram suas esperanças nas relações. Assim, para um equilíbrio entre esperanças e as dúvidas, os parceiros geralmente criam uma história fictícia que exagera as virtudes dos seus parceiros e minimiza os seus defeitos.
A “impressão que EU vou causar” está sendo de maior preocupação do que “quem eu vou escolher”. Talvez aí a chave para explicação para algumas premissas e indagações masculinas e femininas, tais quais: “homem é tudo igual” e “se homem é tudo igual porque elas escolhem tanto?” Enquanto as questões ainda não se desenrolam, a manutenção da vida é intensamente procurada, tanto na bíblia como na natureza: crescei, escolhei e multiplicai, como? Cabe aos cientistas descobrirem!