segunda-feira, 3 de setembro de 2007

A difícil arte de Biologar


“Juro, pela minha fé e pela minha honra e de acordo com os princípios éticos do biólogo, exercer as minhas atividades como profissionais com honestidade, em defesa da vida, estimulando o desenvolvimento científico e humanístico com justiça e paz.” Foi pela através do Decreto nº 88.438 do dia 28 de junho de 1983, que foi instituído o juramento do biólogo: o profissional que defende a qualidade de vida no planeta.

Jurar pela fé e pela honra de acordo com a ética. Creio eu, que não poderiam haver melhores palavras para iniciar um Juramento de tal valia e de tão importante profissional, se não nele contivesse as palavras FÉ, HONRA e ÉTICA. Eis que perguntam-me os senhores, o porquê desta colocação. Na verdade nunca se falou tanto em Biologia como agora, tudo isso em função do aquecimento global, de terremotos de grandes proporções, e inúmeras extinções de espécies animais e vegetais. Eis que agora, a Fé, a Honra e a Ética citadas no juramento do Biólogo vêm a tona e fazem várias gerações refletir sobre o futuro da humanidade.

No momento em que um estudante de ensino médio opta pelo Curso de Ciências Biológicas como escolha para seu futuro profissional, deve ele ter FÉ, afirmo eu com todas as letras: muita fé. Pois ele, ao conhecer e estudar sobre minúsculos corpúsculos que compõem uma estrutura celular; ao reconhecer e analisar plantas desconhecidas, sem saber se pode ela ser nociva ou não para uma população; ao elaborar estratégias que pretendam por diminuir o impacto ambiental em um rio causado por poluição vinda das mãos do homem; ele precisa ter fé no seu trabalho, sem se deixar pestanejar pelos inúmeros obstáculos e fracassos provenientes do desenvolvimento de pesquisas.

Deve ele, embora com sua pouca idade, ter a consciência que deve HONRAR todos os príncipios a ele transmitidos. Compreender a lei da natureza, a seleção natural, os estudos de Mendel; a fim de que possa ele se espelhar em grandes cientistas, mas que em defesa da vida, possa questioná-los e até derrubar suas teses e teorias em função da conservação de uma comunidade biológica.

Analisar, questionar, até indignar com o que acontece no mundo, com o que se vê no meio ambiente; inovar, buscar soluções para anemizar a degradação da camada de ozônio; investigar novas drogas que venham a um dia curar doenças, entretanto ter a ÉTICA de saber até onde seus conceitos e experimentos podem ir e, principalmente se não trarão resultados negativos para o que for tratado.

Jurar por esses conceitos é assumir compromisso não somente com o reitor no dia da formatura; mas com a baleia jubarte que está em extinção, com o pinheiro-do-paraná que está sumindo do mapa, com a codificação de DNA embusca de aperfeiçoamento genético, é compromisso com toda e qualquer forma de vida, é compromisso com o mundo.

A dificíl arte de Biologar, é exaltada na próxima segunda-feira Dia 03 de Setembro, onde lembramos que o juramento de um biólogo se transforma em uma missão desafiadora e questionadora, onde o que se vê são poucos lutando por muitos. Fé, Honra e Ética são desafios herdados em um juramento que pretendem por criar consciência em busca de dignidade, de prosperidade, de avanço e de vida.Mas diante de tanto descaso, de falta de compromisso e de sensibilidade da raça humana, os três preceitos e compromissos assumidos pelos profissionais defensores da vida, parece ser inútil. Uma grande máquina com uma força incalculável, onde algumas pequenas ferramentas parecem ser impotentes para tentar faze-lâ parar. A difícil arte de Biologar e seus mandamentos são postos à prova todos os dias. Então, eu lhes pergunto: Para a vida, não é preciso fé, honra e ética? Se sim, onde está o nosso compromisso, diante do significado de tais palavras?
Refletiram? Para a vida, não é preciso fé, honra e ética. Não é mesmo? Logo, concluímos que, devemos assumir um compromisso com esses preceitos. Pois bem. Infelizmente, vivemos em uma sociedade extremamente capitalista, baseada em ideais de consumo exacerbado e blá blá blá, consumir para melhor viver. Para tanto, recordo o discurso do aplaudidíssimo Presidente Bush sobre as discussões do Protocolo de Kioto, que pretende que os paises assumam um compromisso de diminuir a emissão de gases poluentes para proteção da camada de ozônio; ali, ele enfatiza que se tivermos (EUA) que optar por preservar a natureza e tivermos que diminuir os lucros, quem pagará o preço é o meio ambiente. Ahá! Belo compromisso com fé, honra e ética, não é Caro Presidente.

O fato é que o problema não está somente lá nos Estados Unidos com a emissão descontrolada de CO2 , não é só lá que os valores estão se perdendo, é só abrir melhor os olhos, para vermos atos de falta de dignidade e respeito para com natureza e a biologia de forma geral. È a extração ilegal de palmito no Parque Nacional do Iguaçu, o contrabando de animais silvestres na fronteira Brasil-Paraguay, a aparente extinção do pinheiro-do-paraná no nosso estado, o cidadão que promove queimadas para “limpar” o quintal de casa, o jovem passa com a latinha de cerveja do lado da lixeira e a joga no chão; enfim, cada ação errada que comprometa o equilíbrio das comunidades é uma afronta aos nossos comentados preceitos, mas de todos os cidadãos do mundo.

Observamos que muitas pessoas possuem uma visão distorcida sobre a profissão Biólogo. O que imagina do profissional de biologia é ou um ser que se joga em frente a uma árvore impedindo seu corte, ou um vegetariano que se revolta com o sacrifício de uma galinha. Houve uma época em que a “onda” de um pensamento pseudo-hippie pós-moderno enobrecia o biólogo e o desprezo à ciência se tornou uma posição politicamente correta entre os que compartilhavam dessa visão de mundo. Contudo, temos que pensar que o avanço da ciência nos campos industriais, comerciais pode trazer alguns danos ao meio ambiente e as comunidades biológicas, mas são necessários para nós.

A visão do biólogo na atualidade não é somente pensar em preservar, cultivar e proteger; mas aliar o seu pensamento de conservação (que é o mais forte), aos avanços científicos. Não é somente em reservas ecológicas e em zoológicos que vemos a atuação destes profissionais, mas é cada vez mais ascendente o número de profissionais dedicados a pesquisas em laboratórios. Neurociência, botânica, embriologia, genética, enfim, os cientistas e pesquisadores que desenvolvem projetos de estudos de célula tronco, de mapeamento genético, de descobrimento de novas drogas para cura de doenças, são em sua grande maioria biólogos! E pouca gente sabe disso.

Talvez o estudo e o entendimento das técnicas de corte utilizadas pelas aranhas no período pré-reprodutivo, a composição do veneno das cobras corais, as estratégias de ataque demonstradas pelo tubarão branco em alto mar, a adaptação de uma planta medicinal em um determinado tipo de solo, o ruído emitido pelos golfinhos como forma de comunicação, a utilização correta do gás natural e aperfeiçoamento do uso da energia eólica, a resistência de células de defesa do corpo humano diante de uma nova doença e outras diversas pesquisas, podem, às vezes parecer distantes da realidade dos grandes problemas do Planeta Terra. Mas, temos que ter nosso pensamento dirigido para uma concepção de dependência de espécies, onde uma necessita de outra para viver. O conhecimento da adaptação de um inseto em uma região hoje, pode garantir a manutenção de uma área onde ele possa ser utilizado como inseticida natural contra pragas futuras. Conhecer as propriedades de uma plantinha diferente, pode ser descobrir a cura do câncer amanhã.

“O erro de um médico pode tirar uma vida; o erro de um engenheiro pode tirar várias vidas; o erro de um biólogo pode extinguir uma espécie!" Para cultivar uma vida é preciso ter ética para respeitá-la, honra para defendê-la e fé para antes de tudo, conhecê-la.

FELIZ DIA BIÓLOGOS!
E estejam certos de que quando morrermos,
poderemos dizer sem exaltar:
FIZ O QUE PUDE!