sábado, 24 de janeiro de 2009

Temdiasqueachoqueseilá


- Putz, Polly em casa em uma sexta à noite?

- Pois é, eu até sai com uma amiga. Fui em uma lanchonete, tinha música ao vivo.

- E não tava bom?

- Tava, cheio de gente, música legal e bem animada.

- Tá mas e porque veio embora?

- Não sei, sabe quando alguma coisa te puxa embora? Decidi que tinha que vim pra casa.

E na decisão de ir embora, caminhadas solitárias na sexta-feira à noite me foram muito proveitosas, levaram a sábados de madrugada de manhã cheios de teorizações, enfim, temdiasqueachoqueseilá, hoje é um daqueles. Bem, há quem diga que eu ando exagerando demais nas minhas nos últimos dias, minha mente anda mais foraz que a do Bobby do desenho e trabalhou até em sonho.

Às vezes eu acho que deveria ter feito psicologia, por teorizar e raciocinar demais, mas eu falo demais, então: coitados dos meus pacientes. Mas o fato é que, infelizmente nao temos uma bolinha de cristal para adivinhar aquilo que é melhor para nós: se ficar no bar ou ir caminhar, ou ir pra casa ler um bom livro. Se o melhor caminho é a biologia ou a contabilidade, se devo optar pelo banco ou colégio, se vestir preto ou roxo, se cortar o cabelo ou pintá-lo de vermelho, se falar ou calar, se jogar ou esperar mais uma rodada: não sabemos o que é melhor sem ao fato arriscarmos a provar o que nos oferecem.

Ai a gente pensa que o que é nosso tá guardado e às vezes nos acomodamos por entregar as coisas ao acaso, como se elas se encaminhasse por si só. Aí você vê as oportunidades passarem na tua frente e naquela que "tudo vai dar certo e vai vir pra mim", fica de mãos atadas e perde aquela chance. Canário, é díficil entender como as coisas acontecem ao nosso redor, se quem cala consente ou quem é porque realmente não tem nada a dizer.

Cara, quando eu olho pra trás eu vejo cada cabeçada que eu já dei na vida, cada coisa que eu deixei passar, cada acontecimento que eu deveria ter deixado passar e me joguei, que às vezes cultivaram a raiva, o rancor, o arrependimento do ter ou não ter feito, mas que com o tempo certo, fizeram as coisas se esclarecerem pela questão que tudo que nos acontece, tem uma função específica em nossa vida. Seja sair ou ficar em casa, seja dormir ou ficar olhando a lua e perder seu eclipse. Porém, creio também no fato de que senão de fato movimentarmos as pernas, nunca saberemos se tem mesmo um pote de ouro no final do arco-íris ou se tudo não passa de lenda.

Ando vendo muita gente demais e por impulso e outras que mantém-se paradas e insistindo no mesmo erro e isso muito me faz pensar nas minhas atitudes. Será que estamos no caminho certo? Será que agimos de forma correta?

Não sei, só sei que ontem eu tinha que vir pra casa, não sei porque, amanhã talvez eu entenda.
FRASE DO DIA: "Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite". (Clarice Lispector, sempre Clarice)

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A baixa do Comportamento Monogâmico Oportunista em Série




Muitos dos senhores devem ter rido com as “Coisas para se fazer antes de morrer” de semana passada, não é mesmo? Pois bem que eu também me diverti com as indagações que tive quanto ao desejo mais acentuado dos participantes da minha pesquisa. Evidentemente, que o casar e viver um grande amor esteve presente em 98% das respostas femininas e que as transas diferentes e aventuras “especiais” apareceram em 80% das respostas masculinas.


Comportamentos “vida louca” a parte mais presente nos homens, a questão é que a busca pelo parceiro ideal é presente mais no cotidiano das damas. Bem, que eu já falei e justifiquei aos senhores as razões pelas quais os homens têm uma tendência maior e mais acentuada pela poligamia em comparação as mulheres, isso é fato, porém com o avanço e rompimentos de certas barreiras impostas ao sexo feminino até a infidelidade vem sendo justificada pela ciência.


Uma pesquisa realizada na Universidade do Texas em Austin vem relacionando o nível de auto-estima com a quantidade o hormônio estradiol, onde as mulheres que possuem uma maior quantidade desse hormônio tendem a se considerar mais bonitas e a serem consideradas mais atraentes por outras pessoas.


O hormônio estradiol juntamente com o progesterona são hormônios femininos secretados pelos ovários e são responsáveis pelo desenvolvimento de características sexuais femininas secundárias e pela menstruação normal. Produzidos e secretados por células foliculares ovarianas durante a primeira metade do ciclo menstrual e pelo corpo lúteo durante a fase lútea e durante a gravidez, a secreção destes hormônios cai durante a menopausa, ficando em um nível baixo e constante.


Segundo os pesquisadores de Austin, mulheres com maior concentração deste hormônio tem uma tendência a se sentir menos satisfeitas com seus parceiros e menos comprometidas com eles, sendo o comportamento descrito como “monogamia oportunista em série”. O que ficou subentendido na publicação da pesquisa é que o “instinto feminino” das mulheres tende a procurar e testar parceiros com mais qualidades.


A procura pelo parceiro ideal, seja ele Príncipe Encantado, o Príncipe Desencantado, o Don Juan ou Power Ranger Vermelho é e sempre foi preocupação do sexo feminino, onde a necessidade do encontro de um macho que conferia a proteção à prole e que atenda as necessidades da fêmea é indispensável, porém, segundo as leis da natureza isso é muito difícil.


A psicóloga Kristina Durante, principal autora da pesquisa que fora publicada na revista Biology Letters da Royal Society justifica que o que pregam os regimentos da Mãe-Natureza, é que é raro o encontro de um parceiro que ao mesmo tempo seja um bom provedor de estabilidade para a família e que tenha bons genes para procriar. Para tanto, é que muitas mulheres alternam um relacionamento duradouro com homens mais sérios e pacatos e preferem aventuras com homens atraentes.


Tal fato é diverso nas mulheres, pois estas demandam os dois tipos de recurso por parte do parceiro e procuram um padrão de qualidade que muitas vezes é difícil de se encontrar. Por isso, que muitas mulheres não se sentem obrigadas a se comprometer com um parceiro se outro com melhores qualidades se torna disponível.


O estradiol ainda está ligado no aumento do desejo do poder em mulheres solteiras! Assim, aquelas que não tomam pílulas anticoncepcionais estão ainda mais vulneráveis a exposição e ação deste hormônio.
Para o estudo em questão, houve o recolhimento de hormônios presentes na saliva de 52 universitárias da região do Texas, elas entre 17 e 30 anos em dois estágios do seu ciclo menstrual. Para a análise dos fatos, os cientistas ainda tomaram por base a história sexual das voluntárias e sua aparência, assim desta forma, estas receberam notas no mesmo quesito de jovens estudantes de ambos os sexos.

O resultado foi que as universitárias com concentrações maiores de estradiol tinham mais histórias de paqueras e de casos com outros homens além de seus parceiros “fixos”, assim vamos dizer. No entanto, estas também, mostraram-se mais envolvidas nos relacionamentos duradouros do que nas simples e rotineiras “ficadas”.

O que deu pra entender é que as mulheres adotam o tal comportamento monogâmico em série, quando acreditam que aquele é o Power Ranger Vermelho, ou o Don Juan de Marco, ou o Capitao Jack Sparrow ou Príncipe Encantado, porém se estas se deparam com uma grande decepção, mais do que rapidamente partem para o comportamento poligâmico, buscando enfim o parceiro ideal. Assim, levando em consideração o sol, o calor, o verão e as férias é fácil perceber que tal comportamento anda muito em baixa entre as mulheres, onde literalmente, o sexo feminino também entrou naquela: enquanto não encontra-se o certo, divirta-se com os errados e sem culpa: foi só um teste!
É macharada, cuidem-se, os hormônios estão à flor da pele e prontinhos para serem colocados a prova.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Coisas para fazer antes de morrer

Já fez a sua lista?
Para os nativos do signo de capricórnio, fazer aniversário não é uma coisa assim tão simples. Somos ótimos para fazer comédia com a desgraça, isso inclui a nossa. Introspectivos e profundos, dificilmente consegue se ver a alma de um capricorniano só olhando em seus olhos. Frieza e calculismo espantam seus pretendentes, pois só demonstramos sentimento quando temos certeza do que sentimos.

Sendo inconstantes, desconfiados e dramáticos, aniversários para nós, são datas que nos fazem pensar na vida, no que passou, no que fizemos e no que ainda está por vir. E como disse Millor Fernandes: “... a vida começa quando a gente compreende que ela não dura muito”. Pois bem, que adulto que não tem saudade de sua juventude? Quem é que já não desejou voltar no tempo para tentar fazer algo que não fez, dizer o que não disse? Acredito piamente naquela história de que nada é por acaso e tudo nos acontece no tempo certo; no tempo que a vida nos prepara para receber coisas, acontecimentos e pessoas que cruzam nossa estrada, onde assim, aprendemos com elas e com erros e acertos que as situações e os diferentes tempos da vida nos trazem. Todavia, é que sempre queremos sempre mais tempo. Assim quando vemos o tempo passar, é inevitável nos perguntarmos: o que eu ainda quero fazer na vida?

Não importa a idade, todos temos sede de vida e somos jovens demais para morrer, mas é aí que surge a minha indagação da semana: que você precisaria fazer antes de morrer? Dentro deste questionamento, comecei a elaborar a minha listinha e recorri à ajuda de alguns amigos, a fim de saber quais eram suas 10 necessidades mais loucas e insanas (ou nem tanto assim) a serem cometidas antes de se bater às botas. Alguns listaram dez coisas, outros cinco, outros trinta e duas, mas o que realmente me intrigou nas respostas, é que assim como eu, muitas pessoas deixam algumas vontades para o amanhã e só quando pensariam em uma futura partida é que realmente se proporiam a realizá-las de imediato.

Dentre os desejos mais listados, a vontade de encontrar um grande amor, casar e de deixar descendentes é a mais acentuada; quase todas as listinhas tinham lá: quero ter um filho! Viver ao lado de quem se ama, ter uma noite especial com alguém especial, ver o sol nascer em um lugar específico; também receberam grandes votações. Algumas proposições não eram tão extravagantes, mas com certeza necessárias antes de partir: dizer a todas as pessoas que gostam, que as amam a fim de demonstrar a elas a dimensão de seu carinho e amor; transmitir a estas tudo o que se considera importante; ficar mais tempo com a família, abraçar e beijar mais todos eles.

Outras, porém, são tão necessárias que deveriam ser feitas todos os dias, como buscar a essência das pessoas; falar sempre a verdade, ou reunir com amigos em uma mesa de bar, juntando a cerveja gelada com conversas e filosofias de bar, sendo tudo registrado com fotos e ata lavrada a mão e assinada por todos que comporiam a mesa. A ânsia de conhecer lugares diferentes foi presente: o carnaval na Bahia, China, Europa, Fernando de Noronha, uma aldeia indígena, uma praia nudista; aprender a tocar um instrumento musical e fazer uma serenata. Fazer uma plástica, um curso superior; de quiromancia, de yoga, de pintura; aprender uma nova língua; tirar o brevê; transar em lugares diferentes; andar com um fórmula um; fazer muitos seguros de vida; ver o show de sua banda favorita ou o jogo do seu time do coração. Uns bem simples, mas com seu propósito: passar uns dias em um manicômio, ter um cachorro para lembrar como ser receptivo e alegre com as pessoas, doar sangue para se sentir vivo e útil.

A experiência de ver os desejos das pessoas, me fez ver que a necessidade de todos e a minha é fazer coisas que nos tornam mais felizes. Sim, mais felizes, porque devemos ter a felicidade não como um tempo verbal em nossas vidas, mas uma constante nominal. Assim, fiz da minha listinha um misto de necessidades com algumas vaidades, mas que tornariam o ciclo da minha existência completo e perfeito.

Primeiramente, gostaria de falar a todas as pessoas que já significaram algo em minha vida o quanto elas foram importantes, sejam elas família, amigos ou amores, pois quanto mais vivo a intensidade de meus dias, mais acredito que sentimento não pode ser guardado. Dentre os aprendizados, gostaria de aprender a tocar piano, fazer um curso de bartender, de pintura em tela. Faria uma regressão, outra tatuagem e pularia de pára-quedas. Preciso adormecer e amanhecer em uma praia, tendo oportunidade de ver o sol e a lua; viajar para conhecer a Toscana na Itália, seus vinhedos e ares rústicos e o Museu do Louvre na bela Paris. Almejo abrir uma cafeteria ou um pub, viver de escrever livros, morar na praia, ver a neve. Assistir um GRENAL, final de Campeonato Gaúcho no Olímpico e é claro, viver um grande amor com direito a casamento no inverno e três filhos para me chamarem de mãe.

Dramas a parte, confesso a vocês, que não gosto nada do meu aniversário, mas só de perceber que mesmo diante de tanta coisa ruim no mundo, as pessoas ainda se permitem sonhar e querem realizar coisas em suas vidas, valeu a reflexão dessa semana. Por vezes, nos deixamos levar por tantas outras coisas que nos esquecemos dos nossos sonhos e ambições e a morte, faz pensar que podíamos mais e que de fato podemos e temos que ir sempre mais.

Encerro, agradecendo a todos que me auxiliaram e deixo um pensamento do grande Drummond, que fala muito sobre o hoje e o que realmente precisamos em nossas vidas, a felicidade: “A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade”.
Publicada no Jornal Liberal do dia 17 de Janeiro de 2009, dia que comemoro 23 anos e espero finalmente o FIM DA MALDIÇÃO!

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Quando fala o coração inocente



Uma breve retórica sobre as Mulheres

Santas, Cruéis, Românticas, Independentes, Apaixonadas, Vingativas, Poderosas, Carentes, Ardentes e Únicas. Cada qual com um traço marcante e pessoal, mas todas, tudo em uma só. Depende do dia, da hora, da ocasião e do homem que a acompanha. Portadoras, da inocência do amor puro feminino e inundado com a mais profana cólera pela justiça na terra dos homens, sendo manifestada sob forma e aspectos diferentes dentro da conjuntura que as segue.

Percebendo a diversidade e a semelhança de nós, mulheres, semana passada chamou-me a atenção o filme “Becoming Jane” para o português “Amor e Inocência”, de 2007 sob a direção de Julian Jarrold. A história contada com base em cartas e especulações traz a biografia da escritora inglesa Jane Austen que viveu no final do século XVIII, onde sua história se reflete e se confunde nas páginas de seus livros.

Jane foi uma escritora proeminente, considerada por muitos como a segunda figura mais importante da literatura inglesa depois de Shakespeare. Diante dos hábitos da época, as mulheres eram criadas para se tornarem boas filhas, além de mães e esposas exemplares e onde pior adorno de uma mulher era ser sábia e ser capaz de sentir e falar de seus sentimentos, porém isso não a amedrontava: “... não tenho medo de mostrar meus sentimentos e de fazer coisas imprudentes, pois acredito que o que não se mostra, não se sente”.

Admiradora do uso de ironias sutis, mais tarde é lembrada pela leveza de suas narrativas, as quais até hoje, são lembradas como épicos romances ingleses. Srta. Austen, porém, seguindo tradições familiares sofreu pressões para se casar por interesse a fim de ascender socialmente, o que não lhe agradava, pois acreditava na existência do amor verdadeiro. Conhecedora dos deveres de mulher submissa torna-se uma à frente dele, não abandonando, porém, o típico romantismo feminino. Apaixona-se pelo intrigante Sr Thomas Lefroy, o qual é referenciado em uma de suas obras e cuja história de amor não tem um final feliz devido à preocupação de Jane com o futuro de Thomas. Mulher cheia de si, dotada de uma admirável retórica capaz de persuadir e irritar os grandes aristocratas da época, onde simultaneamente, Jane mostrava-se uma mulher desafiadora aos homens, mas disposta a perdoar, a abrir mão da sua felicidade e de seu amor, por simplesmente amar verdadeiramente outro.

Encantada com seus escritos, entusiasmada com sua história de vida e intrigada com a minha postura ora firme e ora insegura perante os percalços da vida, voltei o meu olhar para outra grande mulher a qual está recebendo as devidas honras por sua postura ardente e intensa de viver: Mayra Monjardim Mattarazzo. A história de uma das maiores cantoras da bossa brasileira está sendo exibida através da minissérie “Maysa: quando fala o coração”.

Quando criança estudou nos tradicionais colégios paulistanos e casou-se aos dezoito anos com o empresário André Matarazzo, porém a união não durou muito tempo, pois André se opôs à sua carreira musical. Herdou de seu pai os traços boêmios protagonizando escândalos devido ao uso de álcool e moderadores de apetite, teve vários relacionamentos amorosos e foi sucesso com inúmeras temporadas de sucesso em diversas casas do Brasil e até fora dele.

Maysa jamais fora portadora de um comportamento “adequado” para as senhoritas da época, assim como Jane, fora nomeada como uma mulher à frente de seu tempo, não admitindo o marasmo e a apaticidade dos jovens de sua época. Menina sapeca, mãe amorosa e ausente, mulher rebelde. Sua trajetória se confunde com as mudanças pelas quais o Brasil passou nesse tempo, tendo seu temperamento estampado nos versos de suas canções: “(...) e é por isso que eu falo demais, é por isso que eu bebo demais, e a razão porque vivo essa vida agitada demais é porque o meu amor por você é imenso”.

Duas grandes mulheres, com personalidades fortíssimas, que marcaram época estampando a sua vida em suas obras. Não diferente de nós, Janes, Maysas, Marias, Claras e Joanas. Talvez muitas de nós nao alcancemos o glamour das heroínas deste texto, mas ao repensar as atitudes destas, percebi que somos assim também nós, as mulheres comuns do dia-a-dia que nos comportamos assim, conseguimos ser o céu e o inferno, permitimos o sonho e criamos o pesadelo, oferecemos o aconchego e a perturbação e assim marcamos a nossa existência e a existência dos que nos rodeiam com nossas atitudes e comportamentos.

O que, porém, marca a intensidade e até a inconstância na vida de uma mulher? O que a torna tão forte e tão frágil ao mesmo tempo? O que a faz sonhar e o que cria a raiva em seu coração? Ousei pensar que fosse talvez a falta de sentimento que fez com que Jane se fechasse durante muito tempo antes de conhecer e renunciar a sua grande paixão. Porém conclui que assim como disse Maysa, que não é a falta de sentimento, mas a abundância dele que cria todos os demais sentimentos e comportamentos em uma dama. Todas são detentoras de vários poderes e magias, mas muitas de nós ainda não compreendemos o que fazer com o excesso. Guardá-lo? Jogá-lo fora? Não sabemos, temos muito a aprender. Assim, o nosso excesso gera paixão, amor, raiva, rancor, doçura, ternura, sensatez, loucura e discurso, muitas vezes incompreendido e condenado no ato de seu acontecer e, muitas vezes exaltado e implorado por depois se compreender. O fato é que o que é demais em uma mulher é o que faz dela ser o que é: tudo em uma só.

Polly confessa que, anda em excesso, sentindo-se um misto de Jane e Maysa.
Publicada no Jornal Liberal de 14 de Janeiro de 2009.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O Acomodador



Porque nada pode nos acomodar


“ O acomodador: existe sempre um evento em nossas vidas que é responsável pelo fato de termos parado de progredir. Um trauma, uma derrota especialmente amarga, uma desilusão amorosa, até mesmo uma vitória que não entendemos direito, termina fazendo com que nos acovardemos e não sigamos adiante. O feiticeiro, no processo de crescimento de seus poderes ocultos, precisa primeiro livrar-se deste ponto acomodador, e para isso tem que rever sua vida e descobrir onde está.”

Talvez, nem os seguidores mais assíduos da Voo Livre se recordem dessa passagem transcrita do livro O Zahir de Paulo Coelho, que ilustrou a primeira publicação desta coluna no ano de 2006. Em meu primeiro devaneio, escrevi sobre o convite que havia recebido para escrever uma coluna semanal neste ilustre jornal e lhes descrevi na oportunidade, sobre meu ponto acomodador, a minha aparente falta do que falar em poucas linhas nas páginas deste periódico.

Na ocasião ilustrei também, sobre nossos pontos acomodadores, aqueles que não nos permitem crescer, que nos impedem de mudar e nos prendem ao passado ou até mesmo no presente e nos deixam temerosos quanto ao futuro. Relembrando o passado, nessas férias, voltei meus olhos para meus antigos rabiscos e percebi o progresso dos meus escritos, desde a época de diários de adolescente, passando pelas colunas aqui publicadas, por poesias postadas em meu blog e pelas crônicas e relatos guardados na memória de meu computador. Nesta viagem, entendi que essa coisa da gente amadurecer e a mudança que sofremos com o tempo e com as experiências são mais do que reais, é algo natural do ser humano, quando nos livramos dos acomodadores.

Meus primeiros escritos traziam os mais diversos assuntos: natureza, amizade, ciência, política, música e até amor, mas todos tratados de uma forma científica e aparentemente inerte a meus sentimentos, eu tentava mostrar o que pensava sem me envolver. Entretanto, ao chegar a esta constatação, perguntei-me: como pode um escritor, mesmo amador como eu, tentar lidar com palavras, sem misturar seu sentimento com elas? Impossível!

Percebi, que em algumas publicações, que queria falar alguma coisa a vocês, trazer uma mensagem ou reflexão, mas de alguma forma, queria também, manter-me afastada de tudo o que dizia, pois me escondia de mim mesma, não sei se por insegurança ou infantilidade, com o acomodador uso de terceiras e segundas pessoas. O fato é que, mesmo tentando manter a impessoalidade das palavras, o que havia escrito em todas as edições da Voo Livre era eu, em primeira e única pessoa, camuflada, mas sempre exprimindo o que sentia. Ouso falar que vocês eram os leitores de um diário particular e por vezes íntimo, mas que não tinha um autor reconhecido e nem ao menos usava um pseudônimo. Queria eu, mostrar-vos a minha alma, mas trajava um pesado casaco de pele. Certamente, todo esse processo foi necessário, pois hoje, quando inicio o quarto ano de rasantes sobre o meu pensar sobre diversos assuntos, através de escritos e relatos, me reconheço compromissada em mostrar a minha verdade a vocês: com erros, fraquezas, acertos e vitórias, com a alma nua e sem medo algum.

O tempo passou e o compreendi pelas linhas rabiscadas em cadernos e documentos digitados, que meu acomodador foi o medo de mostrar o que eu era: de me encarar com erros e acertos diante do espelho da vida. Um tanto quanto egoísta, querer guardar para mim o que penso do mundo, quem sabe quisera de algum modo inserir teorias em vossas mentes e não me responsabilizar pelas ideias que propus, por talvez não acreditar que seriam elas possíveis e que surtiriam algum efeito. Que ironia e que covardia a minha, como disse Saint-Exupérry, na magnífica obra O pequeno príncipe: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Hoje, contudo, sinto-me livre para assinar e abraçar com toda a plenitude o título deste espaço, sem acomodadores e, principalmente sinto-me senhorita de minhas responsabilidades e com coragem para seguir o destino que Deus lançar em minha frente.

Perguntam-se os senhores, o que possibilitou essa minha mudança? Talvez, eu como feiticeira de minha vida reconheci meus poderes ocultos e encontrei a raiz de meu acomodador, o que me possibilitou progredir e mudar.

Para começar, eu tinha um acomodador; para continuar eu tive vários; para seguir em frente eu decidi me livrar de todos eles: porque simplesmente eu quero voar e convido vocês, senhores leitores a me acompanharem por mais esse ano. Quem tiver coragem, me siga: bons rasantes e FELIZ ANO NOVO!
Publicada no Jornal Liberal de 09 de Janeiro de 2008.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Bendito Times New Roman


Algumas coisas atormentam meu coração e me inebriam a alma. Por exemplo, a ABNT manda-me usar Arial 12 com espaçamento duplo, entretanto, eu prefiro Times New Roman, tamanho 16 e espaçamento 1,5. Assim, algumas coisas a gente acostuma, assimila, aceita, outras não, posso até configurar um texto como manda a tal da ABNT, mas eu digito tudo em times 16. Mania, rabugice, capricho? Gosto e isso eu não troco.


Mas, nem tudo na vida tem pode ser como eu quero, pois grande parte das coisas não estão somente ao meu alcance, assim, aprendi a conviver com o acaso, com o inesperado e o inexplicável. Sim, porque existem coisas que você não deve tentar entender ou explicar, simplesmente precisa aceitar.


Por exemplo, o Grêmio ficar campeão da segunda divisão com sete jogadores aos 62 minutos do segundo tempo, Jack morrer no final de Titanic, bóia-fria ganhando uma miséria para dar de comer a uma repugnante burguesia, pessoas boas, puras e apaixonadas viverem apenas amores platônicos.


Gosto de acreditar de que tudo dá certo no final e que nossa estrada está trilhada e é escrita lindamente em Times 16 com 1,5, onde todos meus movimentos foram friamente calculados e o universo conspira para um desejo se realizar; mas isso pode soar um tanto quanto cômodo e um deixo a vida me levar pode nos deixar atônitos frente aos acontecimentos da vida.


Ilusões existem, decepções vão acontecer e dores foram feitas para serem sofridas, assim como a vida foi feita pra ser vivida, para isso é que todos os dias acordamos com a faca e o queijo na mão. Resta saber se vamos cortar o queijo, o dedo, se vamos jogar a faca fora ou encontraremos a goiabada e saborear um amor Romeu e Julieta!


Uma vez Chaplin disse que a vida é uma peça de teatro que não permite ensaios e ele estava sabiamente correto, pois damos conta disso muito tarde e isso é maravilhoso. Dizem que a vitória para ser verdadeira tem que ter sido difícil, talvez todos os obstáculos que enfrentamos no dia a dia: as letras arial, a goleada perdida para o colorado, os amores não correspondidos e Rose cantando sozinha em alto mar, todos esses acontecimentos servem de tempero para uma receita de sucesso, aprendizado e felicidade.


Sim, felicidade. Aprender que temos que ser feliz e não ficar feliz: é a tecla que mais bato. A felicidade não é deve ser encarada como um tempo verbal, mas sim como uma constante nominal: não se conjuga, nem classifica: se vive, e isso eu não troco.


Claro, que há momentos que o cinza atormenta o pensamento, que angústia deita ao nosso lado e nos rouba o travesseiro, que o tédio nos corrompe a alma e enlouquece nosso intelecto, que lágrimas ocupam o lugar do sorriso e, é nessa hora que não devemos abrir mão do Times 16, mas sim cortar o queijo.


Cortar o queijo e sabendo compreender que ele pode ser mussarela, parmesão ou roquefort e o sabor pode não agradar ao seu paladar: agora. Porém, é preciso que o experimentamos e que se saibamos adaptar nosso paladar a um novo sabor: aceitar que esse novo gosto pode casar com nosso prato principal, mesmo ele não existindo, explicando a existência do inexplicável: afinal queijo fresco também é uma delícia e nem precisa de receita digitada em times 16, basta seguir os tormentos e brios do coração.

Obs.: todo esse texto foi digitado em Times New Roman, tamanho 16 e espaçamento 1,5.
Texto escrito em 2008, mas, ainda, muito atual.