sexta-feira, 11 de abril de 2008

Olhos de Criança



“Vai nos levar, pr'um mundo de magia, onde a fantasia vai entrar na dança. E quando o brilho do amor chegar quero é mais brincar, melhor é ser criança”. E ser criança é mesmo maravilhoso. Pego-me às vezes pensando das lágrimas que um dia eu derramei em uma tarde, onde em uma conversa franca com minha mãe, perguntei se eu demoraria muito para crescer. Achava eu, que seria mais feliz como adolescente, jovem ou adulto! Santa inocência de criança!

Todos os dias fico maravilhada ao contemplar os olhos sedentos de graça e de conhecimento pelo mundo e pela vida das crianças com as quais eu convivo. Criança é pura, é amável, é verdadeira, é feliz. Se ela gosta de você, ela não vai mentir, ela não sabe fazer isto. Se chateada, seus olhos a denunciarão; se alegre, sua voz cantarolante demonstrará seu sentimento. Elas não conseguem entender (graças a deus) o entediante, frustrante e sujo mundo em que os adultos vivem. Mas o que mais me deixa indignada são adultos insensíveis a um olhar de criança e de uma forma ou aqueles que de outra acabam com seus sonhos, seus ideais e sua vida.

A mídia nacional tem nos mostrado uma série de atrocidades cometidas por adultos a doces e ingênuas crianças. Primeiro, vimos a caso da menina de doze anos de idade da cidade de Goiânia que foi torturada pela madrasta e pela empregada. Em um dos seus relatos à polícia, a criança declarou: “Desde o meu aniversário (1º de novembro) ela (Silvia, a madrasta) passou a me deixar amarrada, colocava sacolas de plástico na minha cabeça para me sufocar, batia com o martelo nos dedos dos meus pés, apertava os dedos das mãos nas portas, enfiava tesoura no meu nariz, puxava a minha língua com um alicate, me queimava com um ferro de passar roupa, me amarrava na escada da área de serviço e ainda me amordaçava, passando pimenta nos meus olhos e na minha boca".

Um crime contra a vida que mal fechava as feridas de pais e mães que acompanharam o noticiário na televisão, já abria uma maior ainda com a tragédia da menina Isabella Narconi de cinco anos de idade que foi espancada e arremessada do 6º andar de um prédio na cidade de São Paulo. Nesta, o pai e a madrasta da menina foram presos como suspeitos do crime e a investigação já ouviu trinta e seis testemunhas, relata desde os acontecimentos do dia do acidente até a rotina da menina: sonhos, metas e amor. A mãe da menina Ana Carolina Cunha de Oliveira, já havia registrado queixa contra o pai da menina, que no ano de 2007 ameaçou ambas de morte e em sua página do orkut, desabafou: "Filha maravilhosa da minha vida, você será eterna. Lutarei para conquistar tudo nessa vida em 'nosso nome'. Te amarei para sempre!"

Não é de hoje que o Brasil é destaques em atos criminosos e que a violência é inadmissível, mas se tratando de violência contra a criança, isso é um ato de covardia, e agrava-se mais quando quem as comete é algum familiar ou pessoa de ligação intima.

Ninguém é dono da vida, ninguém pode tirá-la. O psicólogo Içami Tiba intitulou um de seus livros como: “Quem ama, educa” e acredito piamente na idéia, mas o fato é que o amor nessas situações, não existe e a justificativa de um corretivo para a educação ou repreensão de alguma atitude impensada das meninas é incabível.
O que foram fechados em ambos os casos, não foram somente o olhar sonhador de criança das duas meninas, mas sim o castelo de sonhos de várias crianças e famílias que inconformadas com a situação remetem-se a uma reflexão de qual é o mundo com o que terão que conviver no futuro. O que eu lhes pergunto é o seguinte, senhores: Qual é a nossa atitude diante de acontecimentos como este? Calar e lamentar? Erguer bandeiras contra a violência e os maus tratos, priorizando o direito à vida e ao amor? Talvez uma atitude isolada pareça ineficaz, entretanto ficar de mãos atadas vendo tantos olhos se fecharem, com certeza, não é a melhor opção. Luto pela infância e o direito de ter um olhar de criança.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Quem tem algo a dizer?


“Maria Clara sentou-se no banco da praça em mais uma tarde de sol e por mais uma vez chamou a atenção de Charles. Ele sempre a observava de longe, mas não se aproximava. Notava que cada semana ela chegava com um autor diferente: Drumonnd, Lispector, Neruda, Camões. Ela também notara que estava sendo observada e gostava, um dia os olhos se encantaram e Charles veio falar com ela. A conversa rendeu... Cinco minutos e um silêncio constrangedor! Ela levantou-se decepcionada e foi embora. Após a apresentação trivial, o diálogo passou para uma análise de gostos: ela amava romances e questões sobre origem da vida e do pensamento e ele se amarrava em “azarar” as gatinhas e fazia coleção de latinhas de cerveja. Ela era fã de Machado de Assis, ele não sabia quem ele era. Ela tinha 15 anos e ele 21”.
Houve um tempo em que achei a literatura portuguesa chata e ler seus livros para mim, era um sacrifício, me causava pânico, me dava tédio, enfim: achava um verdadeiro saco. Não que não gostasse de ler, como até já lhes confessei uma vez, os gibis foram meus primeiros e melhores amigos além de companheiros inseparáveis de tardes e manhãs aguardando a hora de ir para o colégio; mas o que acontece é que no meu tempo de criança curiosa e sonhadora, o contexto histórico e o enredo detalhista dos romances brasileiros não faziam meu perfil. Graças a Deus e ao desespero de um futuro vestibular, peguei gosto pela coisa e hoje sinto falta e até releio algumas obras que me marcaram daquele tempo.
O fato é que mesmo diante do acúmulo de conhecimento adquirido com milhares de risadas trazidas a mim por Mônica e sua turma e dos ataques de nervos causados pelo descobrimento de um emplastro, a cada novo comentário sobre um velho livro ou sobre um escritor do passado o qual eu não conheça me martela o peito, me indignando: - O que você está fazendo que ainda não leu isso? - Uma sensação de tempo perdido me aflige tão vertiginosamente que a indignação chega antes de uma resposta pronta que a justifique.
Não que eu queria aqui dar sermão à falta de interesse de uma forma geral do povo brasileiro pela leitura e da importância que este ato tem na vida principalmente das crianças e jovens, mas o que se conclui é que quem não lê não tem nada a escrever e muito menos a dizer.
Aí, os senhores podem apontar-me a internet e as demais tecnologias do século XXI como as causadoras do problema, pois eu fico muito satisfeita em falar-vos que isso é uma tremenda muleta! Talvez eu deva mesmo dar graças a Deus por não ter tido acesso a todas essas modernidades no meu tempo de ensino fundamental e médio, o que permitiu o estreitamento dos meus fraternos laços com a leitura e o conhecimento, mas uma ressalva deve ser feita: nem tudo o que está na internet é inútil e há vida inteligente oferecendo um conhecimento de garbo e qualidade na rede, em meio a site de relacionamentos, blog´s e principalmente fora da mídia principal: é só saber procurar e o que analisar, porque dá pra ler e adquirir conhecimento na net!

Erga a bunda da cadeira neste momento e rasgue a página desta coluna, aquele pai ou mãe ou irmã ou chefe, que não castigou seu filho ou irmão ou funcionário, cortando-lhe o acesso aos www’s e seu alto poder entretenimento e de concentração de atenção! Todos sentados e página inteira, não é mesmo? Internet é preferência mundial, sem dúvida nenhuma e não deve ser culpada pela falta de assunto e falta de leitura de qualquer pessoa.
Alguns definem a tarefa de ler um texto, um livro, uma coluna, uma crítica ou até mesmo uma pequena charge no jornal como irritante e aborrecedora, mas eu lhes digo que irritante e aborrecedora é a futura geração que não terá nada a acrescentar aos seus descendentes, e isso não se trata de uma informação extremista e radical, mas real.
Estudar é chato, ler é perder tempo, falar de política e economia é para nerd´s, história e filosofia são para loucos, genética e ecologia é coisa para cientistas e hippies e literatura é um assunto brega e ultrapassado! Pois bem, talvez há quem considere essas premissas como verdadeiras, mas eu lhes pergunto qual será o futuro de pessoas com este pensamento?
Parecer atraente para conquistar um belo rostinho, adquirir uma eloqüência para uma entrevista comercial, mostrar-se hercúleo diante de um problema a fim de resolvê-lo, obter uma quantidade razoável de conhecimento para enfrentar um vestibular, formar uma opinião com vastos argumentos diante de um determinado assunto: conhecimento! E todo este, possibilitado a nós sob a forma de livros, artigos, contos, notícias e colunas impressas ou on line, para que possamos devorá-los e nos tornar-nos insaciáveis pelo saber. Deu sono? Preguiça? A opção é de cada um. E além do mais. Quem disse que saber era tarefa fácil? Entretanto, acredito que vale pagar o preço, pois além de ser muito entreter, é profícuo e indispensável para quem tem objetivos e tem algo a dizer. Não é mesmo, Charles?