quinta-feira, 5 de março de 2009

Porque? (Parte II)



Quem pergunta, às vezes já sabe a resposta e tem coisa que não tem resposta.

Primeiramente, gostaria de pedir-vos sinceras desculpas por estar ausente nas últimas edições deste periódico, uma união de motivos de força tecnológica maior aliado a uma estaticidade quase que depressiva de minha alma, foram às causas deste “temporário” desaparecimento. Contrariando os tempos de colorido vibrante do carnaval, passei alguns dias em profundos tons de cinza, pensando e buscando achar respostas para acontecimentos que vida me apresentou. Para isso, misturei a essa maré reflexiva a indagação dos meus “porquês” do último voo e acreditei que um introspectivo mergulho no feriado traria todas as respostas e a razão de todo aquele sentimento, todavia para minha surpresa isso não aconteceu.


Porém o que mais me intrigou não foi o fato de não ter encontrado durante aquele tempo de férias, as respostas para minhas perguntas, mas de perceber que todas elas já tinham respostas, e eu já as conhecia. Pois bem senhores, a questão é que somos seres humanos formados por carne, osso, um pouco de razão e muito de sentimento, aí assim por diversas vezes somos deixados levar pelo calor das emoções e sentimentos e num lapso de memória nos perdemos e perplexos voltamos a fazer perguntas as quais já fizemos no passado e cujas respostas estão estampadas na nossa cara.


Logo, como se fosse um dramalhão mexicano caímos nas amarguras dos porquês e tentamos achar uma razão para o que nos trouxe as mesmas perguntas. È, e volta e meia eu volto na tal da razão, e acredito até que esse negócio dos seres humanos tentarem encontrar razão em tudo o que nos acontece, para tudo o que fizemos, venha a ser uma característica inata em nossas vidas.


Nós seres humanos, com cérebro altamente desenvolvido e polegar opositor, comumente usamos a “razão” como referência a motivos de alguma coisa, onde desde os primórdios é evidente a busca para a origem e continuação de pessoas, coisas, sentimentos, acontecimentos, enfim tudo o que nos rodeia. Porém, a palavra razão possuiu sentidos diferentes: certeza, lucidez, motivo, causa. Para a filosofia inclusive, a razão se constitui uma das principais ferramentas pois essa ciência tem como fundamento a contemplação, o deslumbramento pela realidade, a vontade de conhecer, e como método primordial a rigorosidade do raciocínio, para atingir a estruturação do pensamento e a organização do saber, a razão de ser torna-se fundamental.


Assim na filosofia, a verdade é racional, porque identifica razão e lucidez, além da razão e motivo e por considerar que sempre agimos e falamos movidos por motivos, logo, segundo ela, somos seres racionais e a nossa vontade é racional, porque identifica razão e causa e julga que a realidade opera de acordo com relações causais, assim: realidade é racional. Entretanto, certamente os senhores conhecem a frase de Pascal que diz que: "O coração tem razões que a razão desconhece", logo neste contexto, as razões e razão não têm o mesmo significado, onde razões são os motivos do coração e a razão é algo diferente de coração e indica consciência intelectual e moral.


E dentro deste pensamento, me recordei de vários pensamentos que já tive pensando em razão de ser, de existir e de acontecer e também me recordei que muitas vezes o importante não é encontrar razão de tudo, mas aceitar a idéia de que existem fatos que nos acontecem sem qualquer razão. Por exemplo, não existe uma explicação racional para um terremoto, um enchente, um raio. Pensando com razão e avaliando a razão, lembrei também do que ocorrem dentro dos núcleos das células somáticas na hora da fecundação quando o DNA sofre mutações ao acaso, sem razão ou explicação alguma e dão origem a uma nova espécie. E vamos nos frustrar por isso acontecer ou mesmo vamos criar mais um capitulo para a novela mexicana, não? Talvez, a palavra da vez não seja razão, nem pergunta, nem porque e sim aceitação.


É, ninguém pode negar que adota princípios e condutas em sua vida, os quais objetive seu bem e o bem comum. O bem-estar e a felicidade são a busca primordial e incessante do ser humano (não entremos no que nos faz feliz que isso é outra viagem), porém no caminho nos deparamos com percalços que nos desviam do rumo, aí procuramos a razão do porquê, no que foi que eu errei, tentamos achar todos os porquês e esquecemos do acaso, das coisas sem razão. Imagine se coisas sem razão não acontecessem, o que seriam das tantas novas espécies que surgiram por intermédio das mutações e do acaso? Não permitiria a evolução: do pensamento, de espécies, de formas de vida e do pensar.


Precisamos aceitar tudo o que nos acontece e isso já é uma lição aprendida não é mesmo? Para mim é mas parece que o acaso insiste em me colocar em cheque e porque? Porque sim, talvez eu precise das mesmas perguntas para relembrar as respostas, ou mesmo o acaso, uma força maior, ou sei lá o que trazem coisas e fatos em nossas vidas que venham com algum objetivo ou que não tenham objetivo algum. Mas aí, adianta desesperar? Claro que não, cabe a nós considerar os porquês, avaliar que tem coisas que talvez não tenham o porquê, captar o que nos for necessário, abstrair o que não nos faz bem, aprender novamente com as mesmas perguntas e seguir em frente. Nada de mergulhar no cinza, pois mesmo depois do carnaval é sempre bom levantar a poeira e se divertir em tons de aquarela, por que? Não interessa.


Pollyanna Gracy Wronski é Bióloga, Professora, Acadêmica de Ciências Contábeis e quer tentar não buscar razão pra tudo.

Nenhum comentário: