quinta-feira, 26 de março de 2009

Carta para os Homens



Uma mensagem de dor e angústia para ver se vocês entendem.
Caros homens, mais especificamente Homo sapiens sapiens do sexo masculino, hoje meu papo é diretamente com vocês. Vocês não me conhecem, não me sentem, talvez até acreditem que eu não exista, já ouviram (e ouvem) falar de mim e certamente convivem comigo boa parte de todos os dias do mês.
Olá. Muito prazer, eu sou a Cólica Menstrual. Sou conhecida também como dismenorréia, mas todos me chamam mesmo de cólica, claro que por ser tão agradável, meu nome vem acrescido de alguns apelidos, (alguns até pejorativos), que ilustram o carinho que as mulheres tem por mim: cólica infernal, cólica lazarenta ou mesmo maldita cólica. Graças a Deus, eu só incomodo as mulheres, pois por mais que elas façam alarde, (às vezes um pequeno escândalo, concordo), elas me agüentam. Sou, como se pode dizer, um sintoma normal que venho sempre junto de minhas melhores amigas, as quais vocês também não conhecem, mas já ouviram falar (e muito): a Menstruação e a TPM.
Costumo atingir mais de 50% das mulheres em idade fértil, sou uma das principais queixas delas e responsável por perda de dias inteiros de estudo ou trabalho. Por quê? Bem, particularmente eu sou especialista no que faço, e quando chego, chego para detonar. Ataco logo abaixo, ali na região do ventre e muitas vezes passeio das costas para frente, num andar meio frenético. Ás vezes trago uns acompanhantes para executar minhas tarefas diárias: enjoos, diarréia, vômitos, cansaço (muito inclusive), dor de cabeça, vertigem e um certo “nervosismo”. E é por esse nervosismo que eu chego até vocês homens e vocês não me compreendem.
A verdade é que junto com a TPM e a menstruação, eu estrago a vida das mulheres. Tudo isso por causa de alguns “hormoniozinhos” que são liberados pelo comparsa cérebro, durante o intervalo de tempo em que o corpo da mulher se prepara para menstruar e a menstruação em si. Temos uma relação, digamos, íntima, com hormônios sexuais femininos: o estrógeno e a progesterona. Após cinco dias de ciclo menstrual, os ovários liberam os hormônios, querendo deixar o útero mais espesso, possibilitando abrigar um futuro feto. Depois de 14 dias de ciclo, o óvulo é liberado por um processo chamado de ovulação, aí eu já posso aparecer sozinha, porém é quando termina a ovulação, na última fase do ciclo que vem a TPM e eu aumento, junto com a produção dos amigos hormônios. A gente gosta de uma bagunça, eu interajo com os hormônios e eles com os neurotransmissores e nessa interação é que a gente afeta o humor das meninas. Interagindo com a serotonina, reduzimos seus níveis e causamos sintomas de depressão, irritabilidade, raiva e desejo por carboidratos (macarrão, chocolate, tortas e afins). Cutucando as endorfinas, diminuímos as sensações de prazer e aumentamos as de dor (aí vai mais chocolate e ainda pizza com coca-cola).
Mas o pior mesmo, quer dizer, o melhor é quando os hormônios incendeiam a adrenalina, eles afetam ela de um jeito que aumentam até a pressão sanguínea, o estresse e alteram o humor (explicam-se aí as crises de choro repentinas e os ataques maníaco-depressivo no meio do trabalho, da aula, etc). Isso sem falar nos mineralocorticoides que causam o inchaço e a prolactina que alteram a constituição dos seios. Agora, pensa tudo isso somado a mim, aquela dorzinha ou dorzona chata e a vocês, homens muitas vezes (muitas, concordo que em algumas vezes vocês até tentam ser pacientes), que não compreendem o estado de tsunami que se encontra o psicológico e o físico também das mulheres durante esses períodos.
Me digam, dá pra agüentar? Devo acreditar que vocês devem estar comovidos com minhas palavras e até se perguntando se tem tratamento pra isso. Pois bem, eu, a Cólica, posso ser amenizada com o uso de antiinflamatórios, porém alguns deles podem atacar o estômago e intestino e trazer coisas ainda piores. Vale lembrar que assim como a Menstruação e a TPM, somos manifestações normais (sim, vocês leram normais) do organismo feminino e logo, não existe doença e, por conseguinte, não existe cura. Existe tempo de espera para se amenizar os sintomas e esses tempos passarem, por aquele mês, para retornarem no próximo.
Então, caros cavalheiros, espero que os senhores compreendam um pouquinho mais suas mães, irmãs, amigas, namoradas, colegas, amantes e afins, pois não é nada fácil passar pelo que elas passam, elas não tem culpa, nem eu, nem vocês. Agradem, comprem um chocolatinho, façam um carinho e jamais, mas jamais perguntem se elas estão estressadas ou de TPM, pois o efeito pode virar contra vocês. Tentem compreender, afinal, tudo isso é NORMAL na vida de uma mulher e elas agüentam.

Com carinho e pra vocês sem causar dor,

A Cólica.

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