quinta-feira, 5 de junho de 2008

Entre a Razão e o Coração

Publicada no Jornal Liberal de 06 de Junho de 2008

Não senhores, essa coluna não está fazendo propaganda do Programa da Márcia Goldschimidt, poderia fazer apologia a música Eduardo e Mônica do Legião Urbana: “e quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração”, ou mesmo trazer esclarecimentos e um monte de conceitos, mas o pensamento de hoje faz perguntas.
Quem é que um dia não questionou alguma coisa ou um acontecimento e chegou a terrível conclusão que ele não tinha razão nenhuma de ser? Quem já não ficou entre a razão e a emoção? Mas o que é a razão? Será que todas as coisas têm que realmente ter razão para acontecer?
Muitos filósofos e pensadores tentaram entender a razão e muitos deles opunham a razão à imaginação, onde na imaginação cabiam qualidades secundárias, que são dadas aos sentidos e na razão, as qualidades são primárias. Logo, a imaginação estaria ligada diretamente aos sentidos e sensações e assim distante e contrária à razão.

Porém, o homem, definido como racional possue a capacidade de criar e articular palavras e pensamentos: fala, pensa, tem idéias e onde razão não é somente a arte de pensar, mas a fazer de forma organizada, esclarecida, contida e principalmente sem contradições, controvérsias e emoções. Logo, um pensamento de razão iniciado com Sócrates e Platão ainda vive e nos faz escravos atualmente. Esses pensadores acreditavam que o corpo, as sensações, as emoções, são a fonte dos erros, da violência e da desordem. Assim, o homem racional e pensante precisaria se opor à sensibilidade, percepções e apetites do corpo, e buscar a essência das coisas, buscando a verdade que vem dos pensamentos e idéias.

Entretanto, somos guiados muitas vezes por emoções, muitas delas ditas à flor da pele, o que nos leva a esquecer da razão. Pois bem, sendo o homem um ser que pensa, mas que também sente e ama, não conseguindo por muitas vezes dominar seus sentimentos, pode ele então ser um ser racional?

Nietzsche, falava que nada poderia afastar um homem de seu desejo e de seu pensamento. Entretanto, ele mesmo viu-se perdido diante de um sentimento que não podia controlar. Seus pensamentos em alguns pontos concordam com Sócrates, onde o homem perde a sua razão quando se encontra com a emoção, mas cita que caos, desordem e a contradição são fatores necessários para gerar uma estrela e que a razão é ligada a nossos instintos, ou seja, nossas emoções: “Não é só a razão, mas também a nossa consciência, que se submetem ao nosso instinto mais forte, ao tirano que habita em nós."

Teorias criadas ao longo da história, afirmam que se o homem pudesse manter como modelo de discurso, deveria afastar todos que atentassem contra ele e sua racionalidade, logo: os que deliram, se excedem, se desequilibram, eliminando assim o sentimento e a loucura e tudo o que seja estranho, desconhecido, obscuro, diferente, representado na figura do louco. Todavia, grande parte dos homens que construíram nossa cultura - cientistas, artistas, pensadores - foram considerados loucos. Será então que aqueles que no passado eram considerados loucos e desprovidos de intelectualidade, não são os racionais de hoje?

Será que um certo grau de loucura não é uma condição para criar? Será que ao excluir a loucura e os sentimentos da vida, nossa razão não estaria se tornando também mais fraca? Menos criativa? Mais triste? Não sei. Só sei que se tudo tem uma razão de ser eu ainda não encontrei uma razão para distanciar a razão da emoção. E como diria Toquinho: “Tudo acontece de repente, entre a loucura e a razão, ah, essa vida mata a gente de tédio e paixão”.

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