sábado, 24 de maio de 2008

Antes tarde do que nunca



Publicada no Jornal Liberal de 24 de Maio de 2008


Diversas foram às vezes que abordei os assuntos: ensino superior, futuro e profissionalização. Parece ladainha, mas, aprendi isso e sempre tive em mente que um futuro bom deveria ser calçado em um ingresso em um curso de nível superior. Entretanto, tive que também, conviver com a realidade que a carreira universitária custaria caro e que isso seria um privilégio para poucos. Paguei pra ver e estou pagando de novo e enquanto puder estarei pagando, não que um curso superior garantirá uma velhice multimilionária, mas certamente trará a nós mais oportunidades e o melhor: acréscimo de conhecimento.



O que anima é que o pensamento não é mais só meu, de uma minoria burguesa ou de uma classe média ou baixa consciente, mas a preocupação e a procura por formação superior já abraçam diversas classes da população brasileira. Um levantamento feito pela Revista do Ensino Superior apresentou que o número de instituições no Brasil cresceu 92,3% entre o ano 2000 e 2006 e isso, não revela só uma maior consciência da população quanto à continuidade de estudos, mas também um interesse das políticas públicas e sociais em investir nesse setor.



Algumas políticas inclusivas para o ensino particular e melhorias no ensino público possibilitaram a era de ouro do ensino superior brasileiro onde, de 1997 até o último levantamento de 2006, o número de cursos de graduação no país cresceu 260%. Da criação até o ingresso, os números também aumentaram e a cara dos graduandos brasileiros não é desenhada com traços suaves e jovens, mas um ar e uma expressão de experiência onde a maioria do alunado abarca a faixa etária de 25 a 29 anos, trabalha e tem renda familiar mensal de até dez salários mínimos. Cerca de 39,73% dos alunos que entram no ensino superior tem mais de 25 anos. A grandiosidade deste número reflete uma demanda reprimida que o país não foi capaz de atender durante alguns anos, principalmente por falta de estrutura no sistema universitário brasileiro, onde governo e sociedade não acreditavam ou não era queriam que o brasileiro se instruísse.



Dos ingressantes em sua totalidade, as mulheres passaram a frente dos homens, sendo 55,7% do total de estudantes do sexo feminino. Dentro dessa matemática, um número curioso revela realidades do perfil sócio econômico: cerca de 87% das famílias dos alunos das instituições públicas estão na classe C ou acima e ainda: a renda familiar mensal de 73% dos estudantes do ensino superior não ultrapassa dez salários mínimos. O ingresso das classes B e C no ensino público e o aumento de alunos com uma renda não superior a dez salários mínimos esclarecem o movimento de "deselitização" do ensino superior.



O crescimento aconteceu e é fato. Basta olhar para os lados: jovens de Realeza e região ingressam em cursos de graduação na nossa cidade, deslocam-se até Ampére, Francisco Beltrão, Cascavel, Dois Vizinhos e até vão embora de nossa região em busca de uma graduação. É fato também que o processo está sofrendo uma brusca desacelerada, pois após a rápida expansão vivida a partir dos anos 90, a demanda reprimida foi atendida e em breve algumas salas estarão com carteiras vazias. Porém, é gratificante ver o crescimento dos últimos anos e é esperançoso, pois, aos poucos, o país segue no caminho de uma inclusão verdadeiramente igualitária. Antes tarde do que nunca.

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