quinta-feira, 6 de março de 2008




Hã?

Mentira tem perna curta? Dizer a verdade dói? Pra quem a diz ou pra quem a escuta? De alguns dias para cá, vinha tentando achar respostas para uma série de perguntas que “acinzentavam” a minha cabeça, para tanto, busquei auxílio a uma vasta literatura a fim de esclarecer minhas dúvidas. Meu mergulho psicodélico a fim da resolução de questões foi de sarcásticas tirinhas da Mafalda, passeando pelo mistério oculto do zodíaco e suas previsões astrológicas, a econômicas e políticas colunas de renomadas, exageradas e sensacionalistas revistas e antológicos livros de poemas e crônicas.

Ao confrontar a literatura de décadas e tempos passados com algumas das atuais, notei que um novo mal do século atinge uma parte de nossos comunicadores e formadores de opinião: o pavor de assumir a verdade. Perguntam-me os senhores: Como assim? Arnaldo Jabor, um dos meus autores favoritos, não titubeia em se autodefinir no livro Sanduíches de Realidade: “Eu sou um neo-romântico bobo; falta-me, talvez, a tranqüila contemplatação do erro do mundo”. O que acontece é que um intelectual do gabarito de Jabor, não hesita em mostrar-se pobre diante de sua razão como mesmo diz, demonstrando aos quatro ventos a sua verdade onde um neo-rômantico bobo vê-se perdido diante de tantas burradas cometidas no mundo.
Sua atitude contraria grande parte de alguns dos atuais formadores e destruidores de opinião, que preferem por a culpa dos problemas da economia, da política, do stress, do alto índice de obesidade no: SISTEMA, no processo de GLOBALIZAÇÃO que sofre a sociedade e ainda reserva parte de seu discurso para além de esclarecer o leitor, confundi-lo ainda mais e lembrar dos tempos em que isso não acontecia.
Analisando o fato que no passado tínhamos recessão, Primeira e Segunda Guerra Mundial e ainda, não existiam academias e nem antidepressivos, do que têm a reclamar? Muito pouca coisa. Somando isso a questão da mesma globalização que possibilita o maior acesso à informação, a profissionalização, fica cada vez mais aparente o temor da verdade. Essa minha viagem pode até parecer meio transcendental, mas o que quero dizer é o seguinte senhores: muitos são doutores da verdade, a conhecem, a reconhecem e tem total propriedade para falar da dela, mas por não-sei-qual-motivo, não a regurgitam e preferem mascará-las com doces indiretas e intragáveis reflexões sem pé nem cabeça.
Confesso eu, que por algumas vezes nesse espaço assumi uma postura mistificadora, abordando diversos assuntos de forma a desencadear uma linha de raciocínio onde cada pessoa que deglutisse minhas linhas pudesse construir a sua verdade e não a minha. Entretanto, é dado um momento é a verdade precisa ser mostrada nua e crua, sem fantasias de modo que a massa entenda o que realmente se passa ao nosso redor.
Jabor cita, em uma de suas crônicas, que percebe uma distonia brutal entre o que se vê no país com aquilo que se lê dos intelectuais que o descrevem. Aí é que cresce o problema, caríssimos! O efeito dominó se espalha, logo não temos isso só no mundo literário, mas nas páginas dos jornais, no noticiário da tv, na conversa na vizinha, na escolha da roupa para a festa! O medo do desagrado, da reprovação, da exclusão faz com que percamos o compromisso com a verdade a cada segundo. “- Oh sim, trata-se de um nova forma de arte!” ou “Uma nova moda lançada em Londres”, ou “Uma crise momentânea na bolsa de valores” e mesmo “Sou um romântico contemporâneo”: MENTIRA! A verdade é que o quadro está ridículo, o vestido é brega, a crise abalou o bolso até da burguesia e acredito em finais de contos de fadas fantasiosos! E qual o problema de assumir isso? Nenhum, dizem que é quando eu me sinto mais fraco é que me torno mais forte! Pode ser que aí, reconhecendo nossa fragilidade, nossos defeitos, nossas dificuldades e principalmente nosso poder de mudança que poderemos contornar a situação e encontrar as perguntas para nossos paradigmas!
Alguém tem culpa sim. O que temos que fazer é tornar-nos reconhecedores e assumidores dos problemas sem tentar criar um fantasma que leve a culpa de tudo ou aguardar um brilho enviado pro Freud para a solução dos problemas! Encarar o cinzento em dias nublados, o vermelho em dias de raiva sem perder a apreciação do cor-de-rosa em dias floridos, sem tentar mesclar ou amenizar tons. Isso sim é a verdade e com certeza: não dói!

Publicada no Jornal Liberal de 07/03/08
Especial para amiga querida: Lela.

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