quarta-feira, 30 de maio de 2007

“Entre borrachas e apontadores, mora o meu grande amor, colei seu nome, com várias cores no livro que ela me emprestou”. Trem da Alegria. Saudade? Para as crianças dos anos 80, o tempo voltou como em um mini flash-back. TEMPO. Não vivi muito tempo, mas o suficiente para sentir saudades. Saudades do choro, do riso, da bagunça, do morango com leite condensado. Saudades do tempo em que a Xuxa era a Rainha e que sonhava em ser paquita. Tempo de criança inocente, que acreditava em Papai Noel e Fada do Dente. De ler gibi e clássicos infantis, onde era capaz de inventar e reinventar histórias e todas elas com finais felizes; de acreditar na paixão de ascender os olhos e estalar o coração.
Saudades da escola, dos sermões na diretoria, das aulas perdidas tocando violão no corredor, do lixo na cabeça da professora, das feiras de ciências, dos colegas que se foram ao longo do tempo. Dos amigos reunidos assistindo o Chaves, dançando como chiquitita ou imitando Sandy e Junior. Do sonho de ser artista de tv, de caçar vaga-lume com os primos até a noite, correr de pé no chão, sentir o cheiro da terra, sabe!

Saudades de coisas que doeram: dos tombos de bicicleta, da primeira nota baixa. Saudades de coisas que mexeram: um oi mal pronunciado, o sorriso de canto dado, daquele abraço desajeitado. Saudades de momentos inesquecíveis: o trote na universidade, o desfile de caipirinha, da formatura na Pré-Escola, da música preferida que tocou as três da manhã na rádio, das duas horas ao telefone com a amiga.
Saudades também, de coisas que não vivi: do 100 que não tirei, da canção que não cantei, do vinho que não bebi, da boca que não beijei, da risada que calei, do te amo que não disse, da lágrima que não deixei cair, do momento que se perdi, da vida que passou, do sonho que esqueci.


O tempo passa e os sentimentos vêm e vão, mas fica sempre no peito uma suave sensação, pelo que se fez e pelo que se perdeu. Vivemos “noiados” em busca de um nada: um final de semana ideal: que choveu, o carro do ano: que não era tão bom assim, o corpo perfeito: que deixou mal de saúde. E buscando o tal do nada, que nunca nos contenta, é que perdemos o tudo; perdemos de aproveitar o máximo de cada etapa de nossas vidas, e momentos que pareciam ser tão insignificantes se tornam majestosos. Crescemos e perdemos a pureza da criança, a vitalidade do adolescente, a irreverência dos jovens; ficamos mergulhados entre problemas, responsabilidades e rugas, típicas de adultos. Felizes aqueles que crescem e mantém vivo o espírito do Peter Pan em seu coração.
Às vezes penso que me perdi ao longo do tempo, entretanto, ainda me lambuzo com a massa do bolo, afago o gatinho no tapete, adoro de Sandy e Junior e sonho em ser entrevistada pelo Jô. Ando com cabelos trançados, com um pirulito na boca. Posso não caçar mais vaga-lumes, nem acreditar nos contos de fadas e no sapo que vira príncipe. Posso ter trocado os filmes de amor por documentários de Ecologia, a lasanha pela salada, o gibi pelo artigo em inglês, a coca-cola pelo chá, o lápis de cor pela caneta, mas nem assim eu posso dizer que me arrependa de algo.

Por que será que a gente tem que virar gente grande, né? Quando somos crianças conservamos a dádiva de viver sem compromisso, de cantar junto com a música, de imaginar, de voar, de sonhar. E viramos adultos, engolimos a realidade e perdemos os nossos sonhos. Achamos que eram besteiras infantis e que concretizá-los é bobagem; os congelamos na memória e dentro do baú da alma. E de repente num estalo de arrependimento, queremos descongelá-los, aquecê-los, para vivê-los novamente e resgatar tudo que se foi. Hoje entendo, não é preciso se arrepender ou martirizar pelo que se fez ou se perdeu. É passado, como o nome mesmo diz: passado, já foi.
Lembrem Senhores: nunca é tarde demais, e se pensarem assim, no futuro só restará no peito, uma razão que afogará o coração. Eu cresci e sou maior que a cama, mas durmo com o ursinho de pelúcia; ainda vou morar num castelo e ter meu mordomo trilíngue. Perdi de distribuir muitos sorrisos, de chorar muitas decepções, mas quero viver plenamente todos os dias. Quero conhecer a Monalisa, andar pelas ruas de Veneza, fazer mais uma faculdade, adormecer no colo de minha mãe, escrever um livro, ter uma filha. Quero sentir saudade de tudo isso. Afinal, sentir saudades não é ruim ou triste, nem pelo que se viveu ou perdeu. Sentir saudade é acreditar que se pode fazer do hoje mais saudável, um amanhã mais feliz. Saudade é aquilo que você sentiu quando leu essas linhas e o que chorei quando escrevi.


BYE, beibes!

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