sexta-feira, 29 de junho de 2012

Vadia ?!

Acabou a Rio+20 e não foram foram somente assuntos de desenvolvimento sustentável e de áreas verdes que ganharam espaço, neste dias de Confêrencia da ONU. O social também roubou a cena e ainda com peitos de fora e com apelidos pejorativos: VADIAS.

A cena observada foi um tanto quanto incomum nas ruas da Cidade Maravilhosa, onde mulheres protestavam com seios à mostra, em uma forma de manifestação. Tais mulheres integrantes do grupo Tambores do Safo de Fortaleza, desfilaram durante o evento e gritavam contra o abuso das mulheres, em mais uma aparecimento da Marcha das Vadias. A filosófa Helen Souza, uma das mulheres que protestou na ocasião, em entrevista para o Fantástico do último domingo, alegou que o motivo para o protesto foi o calor. “A gente estava há mais de meia hora marchando. Olhei para o lado e vi um rapaz que tinha escrito nas costas ‘Elas também sentem calor’. Levantei a blusa. E quando eu tirei, ela já tirou também. Quando a gente olhou...”

A chamada da Marcha das Vadias ou Marcha das Vagabundas, do inglês Slutwalk, iniciou em 03 de Abril de 2011 em Toronto no Canadá em função da ocorrência de diversos casos de abuso sexual na Universidade de Toronto, que motivou o comentário do policial Michael Sanguinetti que, preconceituosamente fez uma observação para que "as mulheres evitassem se vestirem como vadias (sluts, no inglês original), para não serem vítimas". O comentário machista levou, naquela data, cerca de 3000 pessoas às ruas de Toronto e dia após dia ganha mais força e expressão.

Durante as passeatas e manifestações, as mulheres não usam roupas cotidianas, mas aquelas consideradas ‘de vadias’, pelo policial Michael e para muito machão que critica a forma de se vestir das mulheres: salto alto, saias, vestidos, lingeries e muita maquiagem, onde desta forma, procuraram garantir sua liberdade de usar a vestimenta que quiser e não ser julgada por isto. Heather Jarvis, fundadora da marcha, foi uma das pessoas que apostou que o evento só aconteceria em Toronto. Todavia, mulheres de demais parte do mundo se sensibilizaram com a causa e começaram a procurá-la querendo organizar marchas semelhantes. No último dia 26 de Maio, a Marcha das Vadias foi observada em 10 capitais brasileiras e serviu como fermento para demais cidades, debaterem e organizarem mais protestos semelhantes.

Como tema da passeata as meninas cantavam: "Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente com a roupa que escolhi". Tal atitude e postura acaloram as discussões do machismo diante da figura feminina. Tudo bem que, o tamanho da roupa da mulher vem diminuindo e isso não é só no Brasil e de certa forma não é muito fácil de aceitar, entretanto, tal condição não pode fazer com que as mulheres recebam os títulos de objeto sexual e ainda ganhar aqueles famosos rótulos de vadia, vagabunda ou de mulher fácil, que não se dá o respeito.

O cunho do movimento é protestar defendendo o direito da mulher ser livre e usar o que quiser e abominar qualquer tipo de violência sexual. Entretanto, as atitudes extremas, como foram vistas na Rio+20, fazem com que a Marcha das Vadias seja vista como um exagero. Concordo, pois com algumas atitudes, a própria mulher é capaz de denegrir a sua imagem. Todavia, haverá cura se não identificarmos a doença e não tomarmos o remédio? A sociedade em geral abre a boca e solta o verbo quando se depara com um vestidinho curtinho e um decote mais profundo, mas não se comove diante de pessoas passando fome, dos escândalos na política, nas mortes por falta de atendimento médico! O que é mais chocante e preocupante?

Os elogios são docemente tecidos as saias curtas, top´s, rímel e batom vermelho, mas são esquecidos diante de uma calça no meio da bunda com meia cueca aparecendo. Calcinha não pode e cueca pode? Por mais quanto tempo teremos que viver em uma sociedade que não reconhece a personalidade, liberdade e autonomia conquistada pelas mulheres? Não se trata aqui uma questão de machismo ou feminismo.

A questão é igualdade e respeito. Mulher não é só peito e bunda, mesmo porque muitas nem os tem, mas tem opinião de sobra de se fazer ultrapassar limites e capacidade de qualquer par de calças. Direito do salto alto, do vestido coladinho, do batom vermelho, pelo simples prazer de se sentir maravilhosa e vitaminada assim. Direitos iguais, direito de ser livre e direito de ser respeitada. Se para a sociedade, isso é ser Vadia, pois então, incorporemos o adjetivo, com um bocado de classe.

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