quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A arte de importar-se...



... e não importar-se.

Engraçado, esta semana estava relendo alguns escritos meus, e deparei-me com um uma citação que fiz de Shakespeare que dizia assim: “... não importa o quanto você se importa, os outros simplesmente não se importam”. Eu, que sempre gostei desta citação e que sempre a usava com o objetivo de ressaltar a importância de se importar com as coisas, na semana que passou, encantei-me por ela, justamente interpretando-a de maneira totalmente contrária: a de não se importar.
É, às vezes, isso acontece com a gente, de repente e de súbito, parece que as coisas, os acontecimentos, as passagens de nossa vida, viram do avesso e fazem com que a gente veja um lado que antes era obscuro e que por momento poderia até ter parecido errôneo. E confesso-vos, que nesta passagem, minha reflexão foi totalmente oportuna, além de trazer grande aprendizado.
Por momentos da vida da gente, nos sentimos tão responsáveis por tudo ao nosso redor, que nos preocupamos tanto com as coisas, que o que para nós parecia normal, aos ouvidos dos outros, soa como um exagero. Queremos tanto fazer as coisas acontecerem e darem resultado, que aos outros parece exibicionismo, marketing ou mesmo algo falso. Desejamos tanto que as coisas deem certo, que o nosso medir esforços para o êxito causa revolta, intrigas e desavenças.
E sabe por que isso acontece? Acredito que justamente pelo significado da citação que trouxe no primeiro parágrafo, por importarmos, outros, ao contrário não se importam nem um pouco e desta forma, tem outra interpretação de ações e gestos. Naturalmente por não se importar, seu pensamento conduz a uma opinião tão crítica que julga a preocupação dos outros com a força contrária de seu pensamento, pois tais ações não correspondem a seu padrão de comportamento.
Tudo que é diferente a mim ou a minha natureza causa estranhamento, questionamentos, dúvidas e é preciso coragem, seja para aqueles que se importam ou mesmo para aqueles inertes. O fato é que tanto para se importar ou não se importar é preciso ser forte e centrado o suficiente a fim de não se abalar com quaisquer que sejam tomadas de decisões dos outros e de si mesmo e com qualquer mudança de si mesmo e dos outros.
Como? Bem talvez, mais difícil que agir, seria eu tentar traduzir meu pensar diante dos acontecimentos que percebo ao meu redor, no que acontece em minha vida e na vida de quem me rodeia, a questão é que é preciso coragem para se importar, caráter para não se importar e maturidade para entender que o importar e o não se importar às vezes, concomitantemente, são extremamente necessários em nossos dias.
Vejamos o Seu João da Silva, ele que era um cara que sempre se importava com o bem estar das pessoas ao seu redor, dos moradores de seu bairro, com os passos de sua família; sofria diversas críticas de seus vizinhos e daqueles que se diziam amigos. E importava-se tanto com isso, que acabou por não se importar mais. Com um tanto de coragem, deixou de importar-se com os demais e passou a importar-se somente com ele mesmo, com seu bem estar e daqueles que percebiam que o seu importar-se era verdadeiro.
O não importar-se do Seu João atingiu muitas pessoas ao seu redor, pois o sua atitude de não importar-se com os outros, fez com que o importar-se com ele aumentasse. Assim, ele já não mais se preocupava com as críticas dos outros, por saber bem que o seu importar era positivo para os seus e o não importar atingia os outros, nesse misto de importar e não importar aprendeu a dar valor ao que ele pensava e fazia e não os que os outros que não se importavam refletiam e deixavam de fazer.
Assim como eu, Seu João Soares mudou e viu que o não se importar é importante e que cria melhorias não para si próprio, mas para todos ao seu redor.

Publicada no Jornal Liberal em 2010.

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