sábado, 26 de junho de 2010

Há dez anos atrás...





Cápsula do tempo. No último domingo, fiquei realmente comovida com uma reportagem exibida pelo Programa Fantástico, onde, um professor do Rio de Janeiro propôs a sua turma que fizesse uma cápsula do tempo, onde, através de cartas eles descrevessem como estariam naquele ano com 14 e 15 anos e como imaginariam estar, passados 10 anos de sua vida.


Quando a caixa foi aberta, vieram à tona não somente poeira e papéis amarelados, mas sentimentos perdidos e sonhos desfeitos. Identifiquei-me com a reportagem não somente, por ter, hoje também a faixa etária de idade dos viajantes do tempo, mas por também guardar lembranças e recordações muito fortes de tudo que pensava naquela época.


Num súbito, fui levada até um notebook para através da moderna internet, para mandar um email para alguns amigos deste e daquele tempo, a fim de levar todos a uma retrospectiva de tudo o que se vivera. Munida de muita tecnologia, voltei aos meus diários de anos atrás para relembrar um pouco dos meus sonhos perdidos.

Poeira, papéis de bala, pedaços de palheta, fotos de artista e letras de música. A minha viagem seguiu além daquelas folhas coloridas e percorreram veredas de um pensamento doce e alegre que acreditava em um futuro cor de rosa.

Há dez anos, eu ingressava no ensino médio, deparava-me com um mundo novo, começava a experimentar os sabores e dissabores de ser adolescente. Com 14 anos reconheci pela primeira vez o significado da palavra amizade. Era perspicaz, estudiosa, ambiciosa, sonhadora. Sempre pronta e de coração aberto, ajudava em trabalhos, feiras de ciências, grêmio estudantil e quase sempre me metia em enrascada.

Era apaixonada por um par de olhos verdes que frequentavam minha sala, mas que nunca me deram moral e nem por isso, eu deixava de acreditar que a paixão e o amor entre duas pessoas poderiam ser verdadeiros.

Jamais pensava em ser professora, muito mesmo futura contabilista, quem dera um dia fazer pós em Planejamento Estratégico. Queria bem quietinho, ser jornalista, trabalhar numa revista bem conceituada. Queria, aos 24 anos de minha vida, ser independente, ter um carro, um emprego estável que atendesse minhas necessidades financeiras e pessoais. Queria casar, ter três filhos, uma porção de bons amigos, queria paz, queria uns quilos a menos, queria abrir um bar.

Todavia, nem tudo que se quer se pode ter e é assim que eu me vejo, dez anos depois. Realizei o sonho de passar em uma instituição de ensino superior pública e me “lasquei” cinco anos dentro dela, sonhando em ser uma mestra e geneticista. Formada, eu, que falava: nunca, jamais, comigo não, voltei atrás. Com o mundo nas costas e na cabeça, sem perspectivas e confiança em relação ao futuro, comecei outra faculdade, comecei pós, parei, voltei, recomecei.

É, a gente aprende, ao longo dos anos, que o tempo passa, leva memórias, apaga sonhos e muda as pessoas. Eu, que odiava tanto mudar de conceitos e de palavra, vejam só, mudei tantas vezes que acabei adorando o ato de mudar. Quem há dez anos ousaria pensar na minha pessoa com mechas louras?

O tempo passou, o cabelo mudou, eu mudei. Tenho um emprego onde trabalho com as melhores pessoas do mundo: crianças e adolescentes (que me deixam louca, às vezes, mas que eu adoro), já ando de carro, respondo por meus atos e assim ainda me meto em quase tudo e sofro com as enrascadas. Sim, ainda não tenho um bar, nem amor, nem filhos, mas escrevo aqui, continuo ambiciosa, só que muito mais responsável e perfeccionista que naquela época.

Os anos se passam. Percebemos que erramos, aprendemos, choramos, mas continuar é preciso: eu continuo. Embora, às vezes não muito confiante e muitas das vezes, como diz um querido amigo meu, ainda meio ingênua e desconfiada demais com tudo, eu sigo, para frente, para o futuro, ainda que escuro e não cor de rosa.

Ao passar destes dez anos, é possível aprender que uma faculdade, duas, não conquistam o respeito das pessoas, principalmente se elas te conhecem da vida inteira, mas que uma ou duas palavras podem conquistar. Aprende-se também, que amizades de verdade nem o tempo, nem à distância as separam, mas descobre-se que as de verdade são raras. Descobre que chorar alivia, mas não resolve o problema e assim a gente aprende a enfrentar o problema, de frente, olhando nos olhos.

Depois de muita relutância é possível até compreender o amor. No meu caso, apaixonei-me pelo amor, depois de um tempo o odiei. Sobre ele, aprendi, desaprendi, desacreditei e o compreendi. Mesmo diante de ilusões e desilusões, é possível ver que no fundo, lá no fundinho mesmo, ele existe: o de mãe, de pai, de irmão, de amigo; até quem sabe o amor apaixonado, que para mim ainda é uma incógnita, que não estou a fim de desvendar.

Aprende-se que sonhar é bom, porém, acontecer do jeito que a gente quer, só mesmo em sonhos, durante a noite, quando se é adolescente, porque quando se é adulto eles se perdem e é preciso aproveitar e a aceitar o que se tem na mão e deles concretizar seu presente; mas nem por isso é preciso parar de sonhar.

Aprende ainda, que não adianta, vamos cair, vão nos derrubar, iludir; que vamos nos machucar, desesperar, estressar e que ao olhar para os lados veremos tudo escuro e frio, mas que mesmo assim, nossa família e amigos de verdade vão nos consolar, que vamos levantar e seguir adiante.

E eu aprendi, principalmente que o que eu penso hoje estará bem mudado quando dez anos se passarem, quando eu for trintona, mas, certamente, como eu penso hoje, eu vou ter a certeza, que eu fiz o que tinha que ser feito, naquela hora e naquele momento, mesmo que fosse para sofrer e aprender.

Recebi, graças à tecnologia, de volta, alguns emails, sobre o assunto “Cápsula do Tempo”. Percebi que não somente eu mudei e aprendi com tudo, mas que o ciclo evolutivo é inevitável na vida de qualquer pessoa e só as faz crescer e melhorar. Porém, já é hora de fechar os diários e voltar ao presente. Lembrar o passado é bom, pensar no futuro é legal, mas é preciso viver este presente e bem vivido, para quando pensar, há dez anos atrás, surgirem só memórias boas na cabeça.

Pollyanna Gracy Wronski é Bióloga Licenciada, Professora, Acadêmica de Ciências Contábeis e está construindo uma cápsula do tempo para daqui dez anos.

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