terça-feira, 28 de julho de 2009

A filha pródiga


“Um homem tinha dois filhos. O mais novo deles pediu à parte que lhe tocava da herança. O pai dividiu e o filho partiu para uma vida desregrada, onde gastou tudo o que havia ganhado de seu pai. Na miséria, lembrou-se de como os empregados da casa do pai eram tratados e resolve voltar, para que desta forma o pai o admitisse de volta. Na casa do pai é acolhido, ganha roupas novas, anel e festa. O filho mais velho, porém, revolta-se contra a bondade e piedade do pai e reclamada de sua atitude. O pai no alto de sua sapiência e misericórdia, revela a alegria do perdão para com o filho que gastou toda a sua herança e no outro que invejava a alguém de sua própria carne”.

Impossível quem não conheça a parábola do filho pródigo, uma das mais marcantes da Bíblia Sagrada e que nos revela a importância em reconhecer o erro e em perdoar. O fato é que nós na maioria das vezes, voltamos o nosso olhar somente para a figura do filho mais novo, que após cair na vida dos prazeres que a sociedade oferece, vê se sozinho e pobre não somente de bens materiais, mas também de amigos, de carinho e de amor. Desta forma, reconhecemos que o erro é daquele que gastou tudo, mas que no silêncio da sua consciência arrepende-se e volta para casa.

De tão focados no filho mais novo, não percebemos o erro do filho mais velho, que é invejoso, rancoroso e guarda em seu coração a mágoa daquele que desobedeceu a seu pai e ainda recebe em troca o amor e acolhida dele. Ele se vê sozinho e não consegue perdoar seu irmão por ter perdido a herança, nem a seu pai que acolheu de novo o filho.

Senhores, quantas vezes nós fomos o filho pródigo que sofremos, pois, diante das tentações mundanas, esquecemos de como devemos viver nossas vidas e nos aventuramos por águas turvas, mesmo sabendo de tudo o que poderemos sofrer ao navegar esses mares?

Quantas vezes nós, fomos o filho mais velho que não aprendemos a perdoar aqueles que nos feriam e magoaram e sedentos por vingança, desejamos justiça?

Quantas vezes nós, fomos o pai, criticados pela bondade, pelo amor sem limites e sem rancores dedicado e sofremos com a opinião alheia de nossos sentimentos?

Em meio a essa confusão de personagens e nos percalços de nosso cotidiano, é fácil nos identificarmos, em situações diferentes nestas três figuras: do filho ambicioso e aventureiro, do outro filho invejoso e magoado e do pai terno e sensível.

A figura dos filhos é muita vezes a imagem na qual nos retratamos, porém, se identificar dentro de cada uma delas é uma tarefa árdua. Se analisarmos o comportamento de cada um, vimos uma coisa comum aos dois, ambos precisaram estar sozinhos, no silêncio de seu coração, para perceberem quem eram, no que haviam errado, que precisavam ser humildes e assumir seu erro e perdoarem seu próximo e a si mesmo.

Trazendo essa história para os nossos dias, percebemos o quanto é difícil, em meio a turbulência e aos sons do nosso cotidiano, fazer silêncio e ouvir o que diz o nosso coração e nos encontrarmos em meio a esse fogo cruzado que é nossa vida. Porém, é somente através deste silêncio interior que entendemos o que nos acontece, que errar é humano, assumi-lo é complexo e perdoar é um desafio que precisa ser encarado e vencido.

É, apontando para o próprio nariz, não sei se sou boa filha, mas entendo que estava sofrendo por ser a mais velha: invejosa, perecendo por ser a mais nova: pródiga e angustiada por ser o pai: incompreendido, mas depois de um período sozinha, em silêncio, recolhida em meus pensamentos, eu, perdoada por mim mesma, estou de volta.

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