terça-feira, 21 de abril de 2009

Mas você lembra?


O que eu tenho que esquecer, mas prefiro lembrar.

Lembra semana passada que eu esqueci onde estava meu óculos? Sorte minha que eu os encontrei! Agora, tem dias e tem coisas que realmente nos acontecem coisas que preferiríamos esquecer e deletar de nossos arquivos de memória, não é mesmo? Pois bem, o que parecia ser impossível, no futuro pode ser verdade.

O Programa Fantástico da Rede Globo trouxe nesse último domingo, uma reportagem que propunha uma solução radical para sumir com todos aqueles importunos momentos que lhe afligem a mente e produzem uma cinzenta sombra em seu passado. Segundo a mesma, alguns cientistas estão desenvolvendo um método que elimina da memória aquelas lembranças que ainda doem, aquelas que nem o tempo apaga.

Assim: suponhamos que todas pessoas são nossos neurônios, as células que povoam o nosso cérebro, quando vivenciamos novas experiências, conhecemos pessoas ou lugares desconhecidos, essas células são ativadas através de raios elétricos ou químicos estabelecendo conexões e realizando sinapses, que são a transmissão da mensagem ou de tal estimulo novo. As tais conexões formam a nossa memória e segundo estudos da Universidade Estadual de Nova Yorque, ela pode ser apagada.

André Fenton, o neurocientista responsável pela pesquisa e sua equipe descobriram que uma proteína PKMzeta é a principal responsável pelo armazenamento das nossas lembranças. Quando você quer lembrar alguma coisa, onde deixou o óculos, por exemplo, essa proteína faz com que os neurônios de memória se tornem eletricamente ativos outra vez e assim você recorda onde pôs o bendito óculos. O que mais intriga porém, é a descoberta que a memória pode ser apagada de vez!

A experiência inicialmente fora realizada com ratos e camundongos, mas segundo a equipe os resultados com humanos seria parecido. Os pequenos animais firam inseridos em uma espécie de carrossel e similar a caixa de Skinner, cada vez que passavam em uma determinada área do carrossel, recebiam um choque.

Ao repetir o experimento, eles guardavam a informação na memória e raramente voltavam a região em que se recebia o choque. Posteriormente, alguns animais receberam substâncias injetadas em partes do cérebro que é responsável pela memória.

Ausentes por alguns dias do carrossel, os ratos não tratados lembraram da área do choque e os que receberam a substância ZIP, tiveram conexões entre neurônios destruídas. De volta, a área de choque dentro do carrossel, os ratos passaram por estas ingenuamente, sem recordar de nada que os havia acontecido. Ok, mas será que eles poderiam voltar a aprender a lembrar que aquela seria uma área de risco? Se sim, essa seria a confirmação de que realmente algumas lembranças que não fazem bem a nossa memória podem ser apagadas da memória sem danos maiores. E o que foi o que de fato aconteceu com os belos ratinhos!

A questão agora está virando discussão junto a neurociência, pois poderíamos eliminar conexões responsáveis por alguns vícios do homem? Ou poder-se-ia usá-las para apagar alguns traumas existentes no passado das pessoas?

Se pudessem o fazer, o que os senhores apagariam? Impossível não lembrar do filme Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, onde o personagem Joel descobre que foi apagado da memória de Clementina, e decide fazer o mesmo, para esquecer um grande amor.
Porém, Fenton alerta que ao apagar a lembrança indesejada, apagaríamos também partes boas da nossa memória. E aí, teríamos algum voluntário? Alguém se sujeitaria, para esquecer de algum momento ruim, excluir também momentos bons que nos proporcionam sensações benéficas?

Para fins científicos, estudiosos já estão à procura de uma substância que possa mostrar aos cirurgiões o ponto exato do cérebro em que cada memória se manifesta, talvez num futuro não tão próximo, tais proposições se concretizem.

Lembrando Nenhum de Nós: “Mas você lembra, você vai lembrar de mim, que o nosso amor valeu a pena”, vale ressaltar a importância de experiências que nos trouxeram dor, sofrimento e angústia e nos fizeram amadurecer e crescer intelecto, pessoal e emocionalmente. Tem coisas que a gente preferia esquecer, de fato, mas por hora tê-las na memória, nos protege de outros sofrimentos ainda piores, assim é preciso lembrar para não esquecer.

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