quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O Acomodador



Porque nada pode nos acomodar


“ O acomodador: existe sempre um evento em nossas vidas que é responsável pelo fato de termos parado de progredir. Um trauma, uma derrota especialmente amarga, uma desilusão amorosa, até mesmo uma vitória que não entendemos direito, termina fazendo com que nos acovardemos e não sigamos adiante. O feiticeiro, no processo de crescimento de seus poderes ocultos, precisa primeiro livrar-se deste ponto acomodador, e para isso tem que rever sua vida e descobrir onde está.”

Talvez, nem os seguidores mais assíduos da Voo Livre se recordem dessa passagem transcrita do livro O Zahir de Paulo Coelho, que ilustrou a primeira publicação desta coluna no ano de 2006. Em meu primeiro devaneio, escrevi sobre o convite que havia recebido para escrever uma coluna semanal neste ilustre jornal e lhes descrevi na oportunidade, sobre meu ponto acomodador, a minha aparente falta do que falar em poucas linhas nas páginas deste periódico.

Na ocasião ilustrei também, sobre nossos pontos acomodadores, aqueles que não nos permitem crescer, que nos impedem de mudar e nos prendem ao passado ou até mesmo no presente e nos deixam temerosos quanto ao futuro. Relembrando o passado, nessas férias, voltei meus olhos para meus antigos rabiscos e percebi o progresso dos meus escritos, desde a época de diários de adolescente, passando pelas colunas aqui publicadas, por poesias postadas em meu blog e pelas crônicas e relatos guardados na memória de meu computador. Nesta viagem, entendi que essa coisa da gente amadurecer e a mudança que sofremos com o tempo e com as experiências são mais do que reais, é algo natural do ser humano, quando nos livramos dos acomodadores.

Meus primeiros escritos traziam os mais diversos assuntos: natureza, amizade, ciência, política, música e até amor, mas todos tratados de uma forma científica e aparentemente inerte a meus sentimentos, eu tentava mostrar o que pensava sem me envolver. Entretanto, ao chegar a esta constatação, perguntei-me: como pode um escritor, mesmo amador como eu, tentar lidar com palavras, sem misturar seu sentimento com elas? Impossível!

Percebi, que em algumas publicações, que queria falar alguma coisa a vocês, trazer uma mensagem ou reflexão, mas de alguma forma, queria também, manter-me afastada de tudo o que dizia, pois me escondia de mim mesma, não sei se por insegurança ou infantilidade, com o acomodador uso de terceiras e segundas pessoas. O fato é que, mesmo tentando manter a impessoalidade das palavras, o que havia escrito em todas as edições da Voo Livre era eu, em primeira e única pessoa, camuflada, mas sempre exprimindo o que sentia. Ouso falar que vocês eram os leitores de um diário particular e por vezes íntimo, mas que não tinha um autor reconhecido e nem ao menos usava um pseudônimo. Queria eu, mostrar-vos a minha alma, mas trajava um pesado casaco de pele. Certamente, todo esse processo foi necessário, pois hoje, quando inicio o quarto ano de rasantes sobre o meu pensar sobre diversos assuntos, através de escritos e relatos, me reconheço compromissada em mostrar a minha verdade a vocês: com erros, fraquezas, acertos e vitórias, com a alma nua e sem medo algum.

O tempo passou e o compreendi pelas linhas rabiscadas em cadernos e documentos digitados, que meu acomodador foi o medo de mostrar o que eu era: de me encarar com erros e acertos diante do espelho da vida. Um tanto quanto egoísta, querer guardar para mim o que penso do mundo, quem sabe quisera de algum modo inserir teorias em vossas mentes e não me responsabilizar pelas ideias que propus, por talvez não acreditar que seriam elas possíveis e que surtiriam algum efeito. Que ironia e que covardia a minha, como disse Saint-Exupérry, na magnífica obra O pequeno príncipe: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Hoje, contudo, sinto-me livre para assinar e abraçar com toda a plenitude o título deste espaço, sem acomodadores e, principalmente sinto-me senhorita de minhas responsabilidades e com coragem para seguir o destino que Deus lançar em minha frente.

Perguntam-se os senhores, o que possibilitou essa minha mudança? Talvez, eu como feiticeira de minha vida reconheci meus poderes ocultos e encontrei a raiz de meu acomodador, o que me possibilitou progredir e mudar.

Para começar, eu tinha um acomodador; para continuar eu tive vários; para seguir em frente eu decidi me livrar de todos eles: porque simplesmente eu quero voar e convido vocês, senhores leitores a me acompanharem por mais esse ano. Quem tiver coragem, me siga: bons rasantes e FELIZ ANO NOVO!
Publicada no Jornal Liberal de 09 de Janeiro de 2008.