quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Bem Simples


Ser humano é uma coisa complicada não é mesmo, senhores? Parece que temos uma triste e amarga mania de querer complicar tudo, até as coisas que por hora nos apresentam sob a forma mais pueril possível, temos a dádiva de conseguir “fazer uma tempestade em copo d’água”, só pelo simples prazer de tornar as coisas complexas e querer achar que a vida está cheia de enigmas e problemas indecifráveis. O fato é que gostamos mesmo é de complicar as coisas.

Segundo o Dicionário Aurélio, o complicar de origem latina vem de tornar confuso, embaraçado; além de também ser definido como o ato de dificultar a compreensão ou a resolução de algo. E se complicar é dificultar, porque insistimos tanto em fazer isso? Que a culpa é toda nossa, isto é, mas talvez nossa falta de atitude perante uma sociedade que traz estampada em seu dia-a-dia, conceitos de modernização, de globalização e de competição nos molda de forma a querer, comer, vender, escrever, fazer sempre o mais elaborado, trabalhado: o mais sofisticado. Entretanto, falar em sofisticação implica em largar mão do simples.

Porém, eu vos pergunto: o que é ser simples? A característica do simples é a simplicidade e para tanto o simples é formado por elementos de fácil utilização ou compreensão: ser simples é ser puro, mero, modesto, natural e espontâneo. Além de todos estes adjetivos, atrevo-me até a dizer que o simples é bem mais livre e em praticamente todas às vezes, é o que nos faz bem e o que nos torna mais felizes.

Puxando pela memória e, sem querer complicar lembrando dos dias com acontecimentos sofisticados que vivi, tentei lembrar de momentos simples os quais se me senti imensamente feliz e não foi difícil de lembrar da última reunião com os colegas de faculdade, a qual proporcionou entre outras coisas, uma divertida noite brincando nas gangorras de um parquinho para crianças. Aposto a pontinha do dedo que os senhores riram ao ler essa frase, mas eu vos confesso, foi de uma felicidade extrema!

Assim como o dia que a gente está cansado, cabisbaixo após um dia de jornadas estressantes e para findar o dia recebe um chamado inesperado no celular, ou um olá de alguém por e-mail ou uma interminável e boba conversa no “msn”. Parece tudo tão comum e tão sem sentido, mas aposto outra pontinha do dedo que os senhores esboçaram um sorriso nestas tensas faces, o que afirmou que já sentiram isso! E como é bom não é? O incrível é que inexplicavelmente deixamos de fazer coisas que “pareçam” bobas e até idiotas diariamente, mas que nos deixam felizes, somente em função da preocupação de achar tudo simples demais para nos trazer prazer.

Mas, acreditem: ser simples não é fácil. Disse uma vez Clarice Lispector: “Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho”, e com toda a razão, porque nessa ânsia em ser feliz e buscar algo que nos complete nos deixa tão cegos que achamos sempre que “o jardim do vizinho é sempre o mais florido”, assim perdemos as nossas principais características que são a autenticidade e a simplicidade e perder estes valores que nos fazem verdadeiramente nós e nos deixam integralmente feliz é fácil, basta esquecer o que se é.

E assim esquecemos de nós mesmos e do que nos faz feliz. Esquecemos no imenso prazer que tolas e até insensatas atitudes nos proporcionam, como comer iogurte com o dedo e lamber a tampinha; na emoção em escutar a música preferida no rádio dentro do ônibus. Lembramos de datas importantes: casamentos e formaturas, mas esquecemos das manhãs que perdemos cozinhando maravilhas para nossos queridos e perceber que no final errou a receita, mas que todos adoraram; do bem e da renovação que traz uma chuveirada gelada na cara após uma caminhada matutina vendo o sol nascer.

Não valorizamos o poder de cura de um “desculpe” e de um sorriso de canto depois de uma briga angustiante; de um bilhetinho carinhoso; de um abraço bem apertado; de um afago inesperado; de um beijo roubado e da alegria em brincar com crianças e como uma criança, porque elas são verdadeiramente autênticas e simples e as mais felizes criaturas! Perdemos a estima em andar descalço na grama; de passear pelas ruas da cidade com o vento beijando a sua cara, de um banho de chuva gelada, do ficar de pijama o domingo inteiro, de comer brigadeiro de colher; de gargalhar pelos próprios erros ao perceber que muito do que a gente sofre é por pura fraqueza de objetivos e por não sermos genuinamente a gente todos os dias da vida.

Estamos nesse mundo velho sem porteiras com um objetivo comum: ser feliz e assim, por hora buscamos a felicidade em coisas estupendas, em acontecimentos espetaculares e artifícios mirabolantes para se ter um sentido em viver, em ser feliz. Coisas vãs! Ser feliz é o sentido e esse sentido é tão mágico que não necessita de pompas ou circunstâncias para existir, é tudo simples, basta saber reconhecer o que é nosso e aceitar, sem desistir ou pestanejar o que a vida nos oferece.

O que não se pode é desistir de ser feliz, mesmo diante das dificuldades e das angústias, sem complicar ou sofisticar demais, pois afinal, vale tudo: é a vida! E como diria Mário Quintana: “Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade”. Por mais que pareça difícil, aventurem-se, sejam bem simples, sejam vocês, sejam felizes! Nem que isso traga uma gripe ou alguns arranhões: as marcas também trazem sorrisos nos lábios e alegria ao coração, acreditem!

Obs.: Bem simples um agradecimento muito especial a pessoas que ajudaram e ajudam a fazer o simples feliz e MARAVILHOSO.

Um comentário:

Seile Manuele Corrêa disse...

Como você disse, dona Pole...É tão simples ser feliz... Nós que complicamos as coisas!

Ás vees, no stress do dia a dia, esquecemos dos pequenos detalhes, e que são eles que dão sabor e cor à nossa vida...

Como disse Vicente de Carvalho em sua poesia "Velho tema", que eu, particularmente, adoro:

"Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrisa que sonhamos
toda arreada de airosos pomos

Existe sim, mas não a alcansamos
pois está sempre apenas onde nós a pomos
e nunca a pomos onde nós estamos"


Bom prá refletir!
Abraços amiga!

E boas inspirações prá você!