quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A estação das flores


“A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega”. Pelas belas palavras de Cecília Meireles chego para perturbar a vossa sexta-feira, meus caros.

Sim, como diziam as mestras no tempo do primário, ao findar o mês de setembro recebemos de presente o sol que mais forte brilha, os pássaros que cantam, as flores que desabrocham: é o sinal da chegada da primavera. Com seu terno clima de otimismo e renovação, naquela época, tínhamos até a sensação de que o amor estava no ar. E talvez estivesse mesmo, lembro-me até das festas de chegada da primavera de meu tempo de criança, quando comemorávamos alegres e sorridentes o seu advento. A comemoração era grande, canções, flores na cabeça que abraçavam tanto o 23 de Setembro que marcava o início da temporada das flores como o 21 de Setembro, o dia da árvore.

Hoje, no entanto, sinto-me em uma sinuca ao comentar com meus alunos a chegada da primavera e o dia da árvore, pois meu discurso como professora, não espalha o amor pelo ar e nem chega perto do qual eu ouvia quando menor. Naquela época, realmente tínhamos o que comemorar, porém o cenário de hoje, sem exageros ou demagogias só nos trazem vontade de chorar.

Talvez, o que transtorne, não é o fato de recebermos a primavera e sim de nem termos tido oportunidade de desfrutar o frio do inverno. Noticiários estampavam em manchetes que teríamos baixíssimas temperaturas em 2008 e o que vimos foi um que outro frio isolado, com recorde de temperaturas sendo superiores aos 30º em plenos meses de Julho e Agosto. Os mais “esfriados” podem até ter ficado felizes com a história, entretanto a cada ano que passa o frio se distancia mais de nossa região, o que revela os efeitos do aquecimento global que vem nos afetando mais diretamente nos últimos anos. O problema está debaixo do nosso nariz e qual a nossa atitude frente a ele?

Para os senhores terem uma idéia, o lugar de maior concentração de biodiversidade mundial é vitima de queimadas e o constante desmatamento e, segundo dados de até Julho de 2007, cerca de 730.000 km2 da Amazônia já foram desmatados. Muito? Certamente é, e sabendo da importância desse local para o mundo é que algumas pessoas e até países estão se sensibilizando com a causa. Um deles é a Noruega, que em um acordo firmado com o governo brasileiro se comprometeu em doar US$ 1 bilhão para o Fundo Amazônia até 2015. Jens Stoltenberg, primeiro-ministro da Noruega, anunciou no último dia 16 que vai investir a quantia no Brasil para a implantação de políticas de redução do desmatamento na Floresta Amazônica. O país será o primeiro doador do chamado Fundo Amazônia, criado pelo governo brasileiro para arrecadar recursos com o objetivo de preservar a floresta.

Curioso que quem vê o problema de fora parece estar mais consciente com a causa do que nós, próprios brasileiros que convivemos diariamente com a situação e nos sentimos “de mãos atadas” para fazer qualquer coisa. Os do Sul, falam que o problema é no Norte, os do Norte precisam da madeira do desmatamento para a sobrevivência e assim o problema cresce e o que nos resta é lembrar dos tempos em que se comemorava e se lembrava a importância da árvore e a chegada da nova estação.

Diante disso, ouso até discordar de Che Guevara que uma vez disse: “Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira”. Não sei não senhores, do jeito que vão as coisas, os poderosos acabarão com tudo e restará para meus sobrinhos e seus filhos, comemorar rosas, árvores e primaveras por fotos, filmes e histórias de tempos passados, pois a nossa ganância e nosso descaso, calarão os pássaros, pintarão flores em cinza, deixarão árvores verdes em tons de fogo e não permitirão sentir o cheiro do amor no ar. Talvez será assim que futuramente comemoremos a primavera e as árvores: com um fúnebre soar de trombeta.

Um comentário:

Seile Manuele Corrêa disse...

Tivessem todos esta consciência, minha cara, e o mundo estaria salvo.
Pena que, para muitos, o futuro pareça ser algo com o qual não precisam se preocupar... acreditam que o dinheiro que conseguem destruindo a vida (sim, destruir a natureza é, também um ato de suicídio)os garantirá muita coisa além de onde estão agora...
Talvez um caixão de cedro...
E uma lápide de diamante.

Sim, porque dojeito que as coisas andam, flores para por sobre o túmulo, só se forem artificiais...