sexta-feira, 12 de junho de 2009

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Exausta, ela chegou em casa e tentou conversar com portas e janelas, sobre idas e vindas, sobre amores e desilusões. Não obtendo respostas, tentou encontrar achar a solução para a pergunta sem resposta no calor de um banho quente. A água fervendo escorria seu corpo banhava-lhe os cabelos e em choque com o corpo gelado buscava a troca de temperatura, a fim de lhe esquentar a alma.
Beijava-lhe os lábios, acariciava o pescoço e suave escorria pelas curvas de seu corpo, a sensação do quente da água, agasalhava-lhe e protegia-lhe contra tudo o que lhe amedrontava naquele momento: o frio, a solidão, a dúvida. Para distrair os pensamentos ousou com o corpo coberto de espumas, ligar o rádio e um arrepio correu o corpo ao ouvir o som de uma segunda chance não pedida, de promessas não cumpridas e de cometer o mesmo erro outra vez, há dias que aquela canção não saia de sua cabeça. Acreditava em sexto sentido e por um momento acreditou se um sinal de bons presságios, mas a realidade era dura e não permitia devaneios românticos.
Talvez, por ser sempre tão a realidade tão dura com ela, que naquela noite ela desejou ficar ali, na sua cama, deitada sem que nada nem ninguém a aguardasse, só seus fiéis conselheiros corações de pelúcia. Por alguns minutos, permaneceu ali inerte ao mundo, porém sentiu que todo aquele sentimento não poderia ser guardado, mas transmitido de alguma forma.
Sem lembrar do cansaço do dia de trabalho, arrumou-se como quem vai a uma festa, queria estar bem, mesmo para passar uma noite em frente ao computador, pois seus escritos mereciam requinte e luxo. Encheu uma taça de vinho e pos um salto. Ligou o computador, sem medo de briefing errados ou brancos, deixou a alma e seus sentimentos conduzirem suas mãos.
Por hora, degustava o sabor marcante do vinho tinto e pela fresta da janela observava a lua e as estrelas. Conseguia ainda, ver a movimentação da rua: o andar dos solitários e dos amantes perambulando pelas ruas da cidade, tudo aquilo lhe servia de inspiração e lhe atiçava o pensamento. As palavras fluíam, o enredo da história completava-se, a cena emocionava, mas de repente, num súbito, a idéia fora interrompida e o frio correu pelo seu corpo.
Pela fresta da janela, ela reconheceu o carro. Aquilo lhe inquietou a alma e acelerou o coração. Não podia ser verdade. Em uma maré de desejos, pediu que se afastasse dali, ao mesmo tempo que implorava para descer e pedir pra ficar. As luzes e o som se afastaram, sentiu alivio e tristeza, com tudo o que acontecera, ela ainda não entendia tudo o que se passava em seu coração, não compreendia qual era a dimensão e o valor do que lhe apertava o peito. Tentava, mas ainda não conseguia entender.
Respirou fundo e voltou-se para a tela do computador, que inundou seu pensamento em cinza: na conversa on-line nada nem ninguém prendia a sua atenção, nem as músicas soavam em tom de motivar-lhe novamente, as palavras sumiram. Fitou a taça de vinho, balançou o liquido com fragrância inconfundível e bebeu novamente, fechou os olhos e percebeu uma luzes, em ritmo desesperante lançou o olhar pela janela e um arrepio correu seu corpo. Um toque no celular. Aconteceu.
Queria, não podia fugir. Ele estava ali, parado, encostado no carro, em frente a sua janela. Os olhares ultrapassaram a cortina que balançava com o vento e o celular continuava a tocar.
- Que você ta fazendo aqui?
- A gente precisa conversar, vem cá.
Ela desligou, não podia, mas decidiu ir, pois como compreender o ouvir da música preferida, a vontade de se por linda e as demais desventuras do acaso, que por muito tempo a estava apunhalando só com coisas tristes e agora parecia lhe sorrir verdadeiramente. Uma olhada no espelho, um olhar decisivo e um esvoaçar de cabelo e partiu.
Ao aproximar-se sentiu que o rosto corou e que as mãos suadas começaram a tremer ao mesmo tempo em que o coração disparou. Com o olhar firme e seguro, não saiba do que, ela sentiu a fragrância do seu cheiro no ar, queria guardar aquilo em um potinho, para quando quisesse sempre lembrar da paz que aquele perfume lhe trazia.
Houve um abraço, sim, aqueles abraços que só eles sabiam dar um ao outro, porque sentiam, que ao menos no abraço, se completavam. Os rostos se afastaram e ele pegou suas mãos e a encostou no carro. Num sussurro ela tentou esboçar alguma reação, mas foi impedida pelos dedos que calaram seus lábios e depois o desenharam: lábio inferior e superior, como quem passa batom com os dedos, conversas entre eles eram os melhores momentos, mas sempre atrapalhavam, porque indagavam e questionavam e queriam saber porquês. Tolos, os dois ainda não haviam aprendido, que existem coisas que não admitem porquês, simplesmente acontecem, porque tem que acontecer.
Ela fechou os olhos, enquanto os lábios de desgrudaram. Perto da orelha sentiu seu perfume, que na sua pele era um convite à perdição. Um suspiro se ouviu, não adiantava tentar relutar, ele sabia exatamente o que ela queria e não podia negar, palavras naquele momento seriam só palavras e totalmente desnecessárias.
A puxou e colocou as mãos em sua cintura, enrolou as suas nos sedosos cabelos e a beijou. O desejo transpirava em seus poros, naquele momento, todas as angústias, pensamentos, discussões, dúvidas deram lugar a verdade do momento. E era real. Em um momento de descanso em busca de fôlego, olhou no fundo dos seus olhos e lembrou de todas as vezes que ela tinha lhe dito sobre o brilho do luar e das estrelas, os quais ele via em seus olhos.
Ficaram ali, por alguns minutos. Não se importavam com quem passava, gritava ou buzinava, o que sentiam um pelo outro era mais forte e importante do que qualquer outra coisa que estava acontecendo no mundo, neste momento, só o que importava para ele era ela e só o que importava para ela era ele.
Num gesto de ternura e carinho ele beijou sua mão, ela que apaixonada era por suas mãos e que sugestionou para saírem dali. Ele surpreso, perguntou para onde iriam, ela sem pestanejar respondeu:
- Com você? Pra qualquer lugar.
Ao tocar a música no carro que falava de não fechar portas, ouviu-se o som do celular com o mesmo toque de despertar da música. Ela acordou e mais uma vez, tudo não passou de um belo sonho, traduzido em singelas linhas. O sentimento vivido e o que sentia ela ainda não conseguia entender se flutuava de amor e ódio, mas naquela hora, queria poder voltar no sonho e viver tudo de novo, nem que fosse, só em sonho.

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