quinta-feira, 10 de julho de 2008

Tempos


Houve um tempo, o qual eu amava o vermelho. Meus cadernos, roupas, mochila, batom, brincos, meias, enfim tudo o que usava tinha a paixão e o grito do vermelho.

Houve um tempo, o qual eu odiava cerveja, salada, mamão e ir a academia; que criticava quem usava celular, quem ouvia sertanejo, quem beijava mais de um em na balada.

Houve um tempo, o qual eu dizia ter personalidade forte, que não mudaria meus princípios por nada e que meu destino era somente eu quem traçava.

Houve um tempo o qual eu gostava do seguinte trecho do poema Aprendi: “(...) e aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam”...

Houve um tempo, o qual eu acreditava que a única pessoa a qual eu podia confiar era eu mesmo e era assim que os outros deviam me ver.

Houve um tempo, o qual eu não aceitava perder, onde eu acreditava que uma derrota só mereceria lágrimas e fundo do poço.

Houve um tempo, o qual eu acreditava que seria feliz quando adulta, formada na faculdade, realizada no amor e sem pedras como obstáculos em meu caminho.

Houve um tempo, o qual eu temia as tempestades, tufões e as mudanças do tempo e da vida. E houve um tempo, em que tudo mudou.

Apaixonei-me pela chuva e pela fuga da rotina, passei gostar de branco, lilás, rosa, laranja e de decolores. Comecei a apreciar saladas light, cerveja e malhação na academia. Comprei um celular e passei a achar lindo, mensagens de bichinhos e coraçõezinhos. Decorei todas as músicas do Vitor e Léo e ainda rio dos saldos ao final do encontro entre amigas.

Troquei o trecho favorito do Aprendi: “ (...) e começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança”.

Cresci, amadureci, mas nem assim tenho certeza de minhas idéias. Conclui que deixar a vida me levar, não é só um trecho de um pagodinho, muito menos uma desculpa para não se preocupar com a vida, mas corresponde a um modo de viver mais leve e solto.

Vi que a vida é um livro e quem o escreve sou eu, mas ela é uma história, e para que tenha um final feliz é preciso confiar e dar essa vida aos seus personagens. Entendi que crescemos muito mais com tropeços e pedradas, do que com vitórias e louros, pois só assim sentimos o calor de uma mão amiga curando machucados e percebemos o brilho das pedras lapidadas.

Descobri que não precisa ser muito para ser alguém, que uma pessoa especial pode não ser aquela que não titubeia, mas sim aquela metamorfose ambulante que tem fé na vida.

E depois de tantos tempos, e de tantos erros, descobri que não são os outros que devem me ver, mas sou eu mesmo que devo me notar, e além de tudo, descobri o principal: que eu não descobri tudo isso, pois tudo eu já sabia, mas que te tanto olhar para os outros e esperar por novos tempos, eu não vivia o meu tempo: o integral tempo de ser feliz.

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