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Embora quisesse se concentrar, tudo ao redor estava desanimador, exceto pela sua presença muito próxima, que precisava deixar de notar e ser fundamental a seus dias. Seu pensamento vagava por ruas, becos, conversas, esperanças e lembranças. Passaram-se os dias até que rápido e, novamente eles estavam lá, um ao lado do outro, para enfrentar os obstáculos que a vida impor.
O reencontro pareceu bem natural, bem simples e bem mascarado. Ele sabia que ela tinha voltado a sua situação e ela sabia que ele estava aproveitando bem o seu tempo. Sentados, um próximo ao outro, a conversa fluía, os olhares por hora se desviavam e por momentos se encontravam e em ambas as situações mostravam-se firmes e bem convincentes.
Risos verdadeiros e papos que passeavam desde jogos de azar até festas de final de semana, além de flertes nas esquinas da vida: um queria contar ao outro que de alguma forma a vida andava, apesar das ataduras no coração e assim disfarçavam bem.
O ultimato dela não era para parecer um fim, mas um ar para a cabeça, um tempo para ajustar os ponteiros, organizar as ideias e recomeçar. Porém, hoje por trás dos risos e do olhar desviante pairava no ar, uma onda de remorso que marejava e inundava o pensamento. Havia sido muito dura? Não sabia responder, mas compreendia que a atitude tomada naquele momento havia sido a mais correta.
Talvez, todas as palavras ouvidas, lidas e subentendidas foram realmente em vão, não restando a menor dúvida. Talvez, fora tudo mesmo mentira, engano, ilusão e tormento ao coração: a incerteza preocupava-lhes.
Para ele, suas palavras soaram como uma desistência e um jogar de toalhas por parte dela. Saiba que ela havia derrubado grilhões e barreiras internas para viver tudo o que aconteceu e assim acreditava que todos estes obstáculos já haviam bastado para ela e não valeria seguir em frente com o que sentia.
Ambos sofreram muito. Ela pela angústia e ele por assistir e sentir-se culpado pelo seu sofrimento. Jamais fora o seu desejo ver lágrimas correr em sua face, mas sua falta de autenticidade em alguns momentos muito a perturbou.
Eram simultaneamente vividos e compreensivos quanto aos aprendizados da vida, todavia eram inexperientes e novatos demais para assimilar o que acontecia. Somaram forças, dividiram angústias, diminuíram sofrimentos, mas de alguma forma que não conseguia se explicar não haviam aprendido a multiplicar seu sentimento.
Não, apesar de tudo, não existem mágoas, nem rancores, mas existem as perguntas sem respostas, o sentimento afogado e o ainda. Ainda? Sim, o ainda, porque ainda existem assuntos que não se resolveram e precisam de tempo e paciência para se desenrolarem.
Seu devaneio foi interrompido por um tapinha no braço e um ar preocupado:
- Você está bem?
O pensamento voltou, os olhos fitaram-se e o silêncio permaneceu por alguns minutos entre eles e um:
- Sim, tá tudo bem. Estava só pensando.
Olhando no fundo dos olhos, ele pensou sozinho: será que está tudo bem mesmo? Não podia perguntar, tinha medo da resposta, do mesmo jeito que ela sentia medo da pergunta. Um sorriso e um olhar para o chão, o rosto corou e ela ficou sem jeito. Até quando poderão permanecer com aquele sentimento não compreendido no ar? Ele pensa e ela pensa no que ambos pensam. São tantas dúvidas que ainda estão a calar e mesmo tão próximo se sente a falta, aperta o peito e quem dirá o nome dessa história? Ambos sabiam que o tempo diria tudo, mas a sensação que o não se há tempo a perder para simplesmente esperar os delírios do tempo, afligiam-lhe os dias.
Assim, passariam os dias até que alguém tomasse a iniciativa a entender o que se passava, a dissolver as incertezas; seja para apagar de vez as cicatrizes ou para reascender de vez a chama.
Publicada no Jornal Igaçaba de Fevereiro de 2009.
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