Há alguns dias
atrás, senti novamente, vontade de escrever. E quanto a vontade de escrever
vem, ela vem de dentro e não surge simplesmente como uma obrigação. Escrever,
para mim não consiste somente em uma obrigação de juntar um amontoado de
palavras e organizá-las de uma forma que pareçam ter sentido. Mesmo porque
escrever não se faz por obrigação e sim por necessidade de se revelar algo ou
expressar um sentimento e, muitas vezes o que se escreve nem tem muito sentido.
Assim, para se
escrever é preciso estar de certa forma preso por algum sentimento, alguma
força, ou livre de toda e qualquer amarra da vida. No meu caso, cheguei a
conclusão que a angústia recente foi substituída por um vazio, mas um vazio não
depressivo e que este vazio, agora, vem sendo substituído por uma sincera
esperança. De fato, se há esperança, há sentimento e se há sentimento não há mais
vazio.
Por mais que
eu conviva, por fases com esse “tal vazio”, eu tenho um medo danado deste “tal
vazio”. O tal vazio na verdade, vem ligado com a ausência de planos de sonhos e
de ambições. E não há nada mais frio, mais sem vida do que viver com a ausência
de planos, sonhos e ambições. Parece que a vida é “ligada do automático” e esse
piloto automático faz com que vivamos inertes sem termos controle de nossas
vidas. E mais do que o ter medo do “tal vazio” é ter medo do “ligar no
automático”.
Tudo bem, ai
você me fala, mas “ligar no automático” nem pode ser assim tão ruim, porque
pelo que sabemos em nossa vasta experiência em filmes de ação, quando os
destemidos atores-heróis, ligam o avião no piloto automático, a máquina assume
o controle e tudo está em plena tranquilidade.
É, de certa
forma, eu posso até concordar, mas não há nada mais apático do que viver uma
vida tranquila, onde não se tenha o controle desta própria vida. Hã?! Sim, se
vocês pensam que uma vida de rotina, onde se acorda, trabalha, come e dorme
mecanicamente é boa, pois eu digo, peguem esta vida para vocês.
Vemos hoje em
dia, milhares de pessoas que seguem a razão dos seus pensamentos, que
negligenciam seus sentimentos e em função de uma razão ou razões, que as fazem
parar de sonhar!
Tudo bem olhe
para trás e volte 10, 15 anos! Veja-se com essa idade e se recorde de quantos
sonhos tinha, dos quais planos que traçou e que por algum motivo abandonou? Eu
tenho, aos montes! Tudo bem também, que muitos deles eu substitui, mas muitos
deles se perderam comigo no tempo. O sonho de ser jornalista e escritora, de
ter um amor verdadeiro, casar na igreja,
de ter 3 filhos, de viajar cada ano para um local diferente todo ano, ter uma
casa com piscina, de por silicone, fazer lipoaspiração, ser melhor com meus
amigos.
Eu, com 11
anos, tinha todos os sonhos do mundo em minha vida. Carregava em minhas costas
todas as esperanças de um futuro brilhante e hoje em dia, é difícil de carregar
meia dúzia de problemas a resolver.
A vida é
assim. Não, a vida nos torna assim: desiludidos e descrentes de sonhos. Os
problemas que constantemente crescem frente aos nossos olhos, martelam a nossa
cabeça e desorientam nosso coração e, como gato escaldado, fugimos de tudo aquilo
que nos parece arriscado. Assim nos tornamos, pois nós decidimos o que fazemos
da nossa vida.
Disse uma vez
alguém, que eu não me lembro de quem, que uma vida sem riscos não merece ser
vivida e eu acrescentaria que vida sem riscos, sem sonhos, sem ambições é uma vida
“ligada no automático”, a qual não temos nenhum controle, onde na verdade não
possuímos nenhum. Ou alguém acredita que pode controlar mente, corpo e coração
o tempo todo? Nem a pau Juvenal, como diz uma expressão por aí sempre repetida.
Nós escolhemos o que fazemos com nossos problemas, se os enfrentamos ou nos
acovardamos diante deles. Nós escolhemos se resolvemos pagar pra ver e ir em
busca dos sonhos, ou desistimos deles e paramos de sonhar. Nós que escolhemos
negligenciar nossos sentimentos, ou afogá-los e esquece-los para sempre.
Há muito tempo
estava levando uma vida no automático, acho que chegou a hora que arrebentar o
tal botão e assumir o comando do avião da minha vida. Se cair e explodir, que
se dane. Depois eu conserto e volto a sonhar e a voar e a escrever, porque
voltou a ter sentido.